São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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ANIMAÇÃO

Inclusão de novos roteiristas à equipe dá novo fôlego ao seriado, um dos mais duradouros da televisão americana

"Simpsons" resiste e chega ao 350º episódio

Fred Prouser/Reuters
Matt Groening, criador de "Os Simpsons", ao lado de Lisa, Maggie, Bart e Homer, personagens do seriado que existe desde 1989


DAVID CARR
DO "NEW YORK TIMES"

Se alguém, por amor à arte ou por motivos científicos, decidisse assistir a todos os episódios produzidos para a série "Os Simpsons", teria de passar mais de uma semana sem dormir para acompanhar consecutivamente os 350 desenhos de meia hora que formam o seriado -até agora.
Nessa maratona, o espectador aprenderia que a vida na rua chamada Evergreen Terrace nunca muda de verdade, que Bart, Lisa e Maggie, bem como seu criador, Matt Groening, jamais amadurecerão e que os Simpsons, que já foram encarados como tropas de choque da mortificação cultural, são um exemplo reluzente de estabilidade familiar no mundo instável da televisão.
Ainda que alguns dos fãs mais ferozes possam sugerir que a energia da série se esgotou há algum tempo, os desenhos continuam a ser produzidos com grande dedicação -há 20 roteiristas trabalhando na temporada do ano que vem, em busca de alguma piada que ainda não tenha sido usada em "Os Simpsons".
A "sitcom" em forma de desenho animado, que parecia ter perdido parte de seu poder de ataque, está de volta ao noticiário com um episódio sobre o casamento homossexual, outro capítulo satírico sobre o flerte dos Simpsons com o catolicismo e um terceiro sobre o apocalipse.
Groening, a despeito de ter dado a entender em entrevistas anteriores que a série talvez estivesse se aproximando do fim, reencontrou o ânimo. "Creio que a série tenha quase chegado à metade do caminho, o que quer dizer pelo menos mais 17 anos", disse o autor do programa que já é o mais antigo em exibição contínua pela TV dos Estados Unidos.
James L. Brooks, o veterano produtor de televisão que ajudou a desenvolver a série, disse que os episódios que estão em produção serão "clássicos", em parte devido ao influxo de novos talentos para a equipe de roteiristas. E, caso isso não satisfaça o apetite das audiências, Groening, Brooks e roteiristas veteranos do programa estão trabalhando com afinco, em um escritório no estúdio da Fox, preparando o aguardado longa-metragem dos Simpsons, há muito tempo tema de boatos. "Parte do motivo para que tenhamos sobrevivido é que os personagens têm verdadeira profundidade emocional", disse Groening.
Com mais de US$ 1 bilhão (R$ 2,5 bilhões) em verdinhas gerados pelas pessoas amarelas de Springfield, "Os Simpsons", exibido no Brasil pela Fox e aos sábados pela Globo, ocupou na semana passada o 68º posto no ranking de audiência dos programas de redes abertas de TV nos EUA, de acordo com a Nielsen Media Research, e continua a atrair quase 10 milhões de telespectadores, a maioria dos quais nos grupos demográficos mais jovens, os mais procurados pelos anunciantes.
A rede está feliz o suficiente com o programa para ter dado uma festa na última semana celebrando o 350º episódio, um número aparentemente aleatório, mas que nenhum outro programa de TV ainda no ar atingiu.
Groening concebeu a série em 15 minutos, antes de uma reunião em que foi convidado a propor idéias para a Fox -na correria, usou os nomes de pessoas de sua família para os personagens-, e o programa sobreviveu a "Friends", "Seinfeld" e "Cheers". O que inicialmente deveria ser um acompanhamento, em forma de animação, para interposição entre os quadros com atores reais do programa da comediante Tracey Ullman, se tornou uma série com vida própria em 1989 e progrediu até se tornar uma referência para a cultura dos EUA.
"Eu sempre achei que a série seria um sucesso", diz Groening. "Naquela época, a Fox tinha acabado de estrear como rede e estava disposta a experimentar. Até hoje, não acho que seria possível ter produzido essa série em outra rede." Parecendo exatamente o ex-hippie moderadamente arrumadinho em que se transformou -óculos modernos, uma discreta barriguinha-, Groening, 51, diz que "Os Simpsons" talvez seja a única comédia de situação da história que nunca teve de realizar modificações a pedido de executivos do estúdio, uma situação privilegiada proposta e defendida por Brooks, um dos padrinhos do programas.
"Nós sempre nos dizemos que saberemos a hora de pôr fim à série, e já houve momentos em que consideramos seriamente a possibilidade", disse Brooks. "Mas creio que todos nós estejamos nos sentindo muito bem quanto ao programa agora." Inserir borracha nova em um pneu velho requer enorme esforço -o programa sempre corre o risco de se tornar uma paródia de seus melhores anos. Um episódio de "South Park" sugeriu, certa vez, que todos os possíveis temas cômicos já haviam sido tratados em "Os Simpsons". Mas Groening e Al Jean, um produtor-executivo da série, estão na equipe desde o começo e ambos insistem que a temporada atual terá sua cota de episódios clássicos. "Nós levamos muito a sério o amor do público pela série e não queremos ser responsáveis pela decadência de sua qualidade", disse Jean.

Outros produtos
Groening desfruta o sucesso do programa com júbilo infantil e mercenário, produzindo alegremente uma longa série de livros e licenciando milhares de produtos derivativos, como uma réplica inflável, com 1 m de altura, de uma lata de cerveja Duff, disponível no varejo. Continua a desenhar sua tira semanal de quadrinhos, "Life in Hell", porque gosta de manter uma atividade solitária, mas é evidente que também adora colaborar com os demais roteiristas da série -muitos dos quais eram crianças quando Bart chegou pela primeira vez às telas.
"Eu tenho a sorte de trabalhar com escritores ainda mais engraçados do que eu, animadores que desenham melhor do que eu e executivos de rede de televisão que se vestem melhor do que eu", diz Groening. "Sinto-me ótimo."


Tradução Paulo Migliacci

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