São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

O afresco "O Pão", doado à família do pintor por dona da casa onde se encontrava, seguiria para Goiás

Operação tensa retira obra de Pennacchi de demolição

DA REPORTAGEM LOCAL

O ideal de precisão cirúrgica que se poderia desejar para a delicada operação que é a retirada de um afresco de uma casa quase em ruínas não esteve muito próximo da remoção de "O Pão", obra de Fulvio Pennacchi, ontem, em São Paulo. Problemas técnicos deixaram o ambiente tenso -mas, ainda assim, no fim, tudo deu certo.
A essa altura, o afresco pintado por Pennacchi (1905-1992) em 1945, para a família Lunardelli, deve estar em Cristalina (GO), onde mora Atílio, um dos oito filhos do artista italiano, emigrado para o Brasil em 1929.
Espera-se que intacto. O caminhão conseguido para fazer a viagem, de mais de 900 quilômetros, não era o mais apropriado para transportar as cerca de quatro toneladas do afresco.
Na pior das hipóteses, a obra estava segurada, pensamos. "Com certeza não", disse Paulo Pennacchi, o filho destacado para acompanhar a retirada de "O Pão". "De que adianta fazer seguro?", completou, argumentando que, se os danos fossem maiores do que uma trinca na pintura, não haveria mesmo como "dar um jeito".
As condições do terreno -em rampa de terra, já que o piso original da casa já quase inexiste- tampouco ajudaram a operação.
Na verdade, a aventura começara antes, com uma questão prosaica: a furação feita na estrutura forjada ao redor do afresco não tinha diâmetro suficiente para passar o cabo de aço, usado pelo guindaste para içar a peça -parede e tudo- para o outro caminhão, que a levaria até Goiás.
Esse primeiro percalço foi resolvido em meia hora, com duas alças passadas nos furos do suporte. Para a equipe do guindaste, acostumada a lidar com maquinário e peças pré-moldadas, era mais uma operação de transporte de material pesado. "A gente faz obra, levanta casa em dois, três dias", informou um dos operários. Mas e uma obra de arte, já transportaram? ""Quadro" não."
O engenheiro mostrava tranquilidade. "É só ir com cautela. Tudo o que envolve peso não pode ter pressa." Mas até que foi rápido: coisa de 15 minutos para o afresco "levitar" para fora da construção. Demorado foi, peça no ar, conseguir pousá-la na carroceria do veículo que a levaria.
A primeira tentativa -vencer o desnível do terreno com o afresco no próprio guindaste- mostrou-se temerária. A peça balança. O guindaste, então, recua.
O que se seguiu foi uma paciente aproximação entre os dois veículos, de modo a içar a obra de Pennacchi com o mínimo de deslocamento possível. Três horas de suadouro depois, lá vai "O Pão", amarrado com cordas de náilon, na caçamba do caminhão. Melhor do que ser destruído.
(FRANCESCA ANGIOLILLO)



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