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ARTES PLÁSTICAS
O afresco "O Pão", doado à família do pintor por dona da casa onde se encontrava, seguiria para Goiás
Operação tensa retira obra de Pennacchi de demolição
DA REPORTAGEM LOCAL
O ideal de precisão cirúrgica
que se poderia desejar para a delicada operação que é a retirada de
um afresco de uma casa quase em
ruínas não esteve muito próximo
da remoção de "O Pão", obra de
Fulvio Pennacchi, ontem, em São
Paulo. Problemas técnicos deixaram o ambiente tenso -mas, ainda assim, no fim, tudo deu certo.
A essa altura, o afresco pintado
por Pennacchi (1905-1992) em
1945, para a família Lunardelli,
deve estar em Cristalina (GO), onde mora Atílio, um dos oito filhos
do artista italiano, emigrado para
o Brasil em 1929.
Espera-se que intacto. O caminhão conseguido para fazer a viagem, de mais de 900 quilômetros,
não era o mais apropriado para
transportar as cerca de quatro toneladas do afresco.
Na pior das hipóteses, a obra estava segurada, pensamos. "Com
certeza não", disse Paulo Pennacchi, o filho destacado para acompanhar a retirada de "O Pão". "De
que adianta fazer seguro?", completou, argumentando que, se os
danos fossem maiores do que
uma trinca na pintura, não haveria mesmo como "dar um jeito".
As condições do terreno -em
rampa de terra, já que o piso original da casa já quase inexiste-
tampouco ajudaram a operação.
Na verdade, a aventura começara antes, com uma questão prosaica: a furação feita na estrutura
forjada ao redor do afresco não tinha diâmetro suficiente para passar o cabo de aço, usado pelo
guindaste para içar a peça -parede e tudo- para o outro caminhão, que a levaria até Goiás.
Esse primeiro percalço foi resolvido em meia hora, com duas alças passadas nos furos do suporte.
Para a equipe do guindaste, acostumada a lidar com maquinário e
peças pré-moldadas, era mais
uma operação de transporte de
material pesado. "A gente faz
obra, levanta casa em dois, três
dias", informou um dos operários. Mas e uma obra de arte, já
transportaram? ""Quadro" não."
O engenheiro mostrava tranquilidade. "É só ir com cautela.
Tudo o que envolve peso não pode ter pressa." Mas até que foi rápido: coisa de 15 minutos para o
afresco "levitar" para fora da
construção. Demorado foi, peça
no ar, conseguir pousá-la na carroceria do veículo que a levaria.
A primeira tentativa -vencer o
desnível do terreno com o afresco
no próprio guindaste- mostrou-se temerária. A peça balança. O
guindaste, então, recua.
O que se seguiu foi uma paciente aproximação entre os dois veículos, de modo a içar a obra de
Pennacchi com o mínimo de deslocamento possível. Três horas de
suadouro depois, lá vai "O Pão",
amarrado com cordas de náilon,
na caçamba do caminhão. Melhor
do que ser destruído.
(FRANCESCA ANGIOLILLO)
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