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"O PÉRIPLO DE BALDASSARE"
Amin Maalouf utiliza busca como pretexto
JESUS DE PAULA ASSIS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Baldassare Embriaco é um
genovês que mantém uma
loja de curiosidades em Gibelet,
no Líbano. O ano é 1665. Em sua
cidade, é um cristão que convive
com judeus sob o Império Otomano. A distante Gênova de seus
sonhos (que nunca visitara) está
em uma Europa em que grassa a
instabilidade política e religiosa.
A época é perfeita para os maus
presságios: 1666 será o "Ano da
Besta", provável o último do planeta, segundo a tradição bíblica.
E é no cenário tranquilo da loja
de Baldassare que aparece um livro que poderia pôr ordem nesse
mundo ansioso e à beira do fim.
Trata-se de "O Centésimo Nome", de Abu-Maher al-Mazandarani. O assunto: há um nome para
Deus além dos 99 conhecidos e
usados no Corão. Conhecê-lo (e
pronunciá-lo) era garantia de salvação. O périplo a que se refere o
título é a busca por esse livro.
Maalouf estrutura sua novela na
forma de um diário de Baldassare,
o que dá ao protagonista o status
de informante e comentador das
ações e pessoas. Mas, diferentemente de outros livro cujo motor
inicial é um livro imaginário, neste, "O Centésimo Nome" é só pretexto para um périplo em que se
misturam aventura e observação
humana. Baldassare, um cético
jogado na estrada na busca de um
livro erudito que explora uma superstição, vai encontrando personagens e transformando sua busca em autocompreensão.
Uma vez que Maalouf não está
de fato preocupado com o ambiente em que se desenrola a ação,
nomes de locais que poderiam ser
sugestivos para a imaginação
-como a loja encravada no Líbano, o mercado em Lisboa, a Constantinopla cosmopolita ou a Londres vítima a um incêndio gigantesco- ficam apenas nos nomes,
sem mais descrição. Diferente do
périplo de Ciro Espítama, personagem de Gore Vidal em "Criação", em que os ambientes exóticos são minuciosamente descritos, o de Baldassare é uma série de
pretextos para reflexão, que poderiam ser outros, ter outros nomes,
situar-se noutros tempos.
E, já que o autor também não se
insere na tradição dos livros sobre
livros imaginários -como Lovecraft o faz com o "Necronomicon", Eco, com a "Ética" de Aristóteles, ou Borges, com a "Enciclopédia de Tlon"-, seu citado livro só aparece como pretexto do
périplo, sem ser explorado.
Resolvidos os pretextos no que
são, restam o relato pontual de
aventuras e as tais reflexões, que
pouco têm de iluminadoras. Isso
não tira o caráter de leitura agradável, que preenche bem um domingo despreocupado. Mas resta
a sensação de que foram muitos
pretextos para pouco resultado e
de que algo ficou faltando fechar.
O Périplo de Baldassare
Autor: Amin Maalouf
Tradutor: Eduardo Brandão
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 39,50 (488 págs.)
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