São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"COMO E POR QUE LER"

Poesia brasileira e clássicos, por Italo Moriconi e Ana Maria Machado, saem na segunda-feira

Nova série esmiúça literatura para provar que ler é bom

DA REPORTAGEM LOCAL

É comum ouvirmos que o brasileiro não gosta de ler, que a escola não estimula o prazer da leitura; que, ao contrário, causa nos estudantes uma "alergia" ao literário.
Vendo no problema um filão, a Objetiva põe na praça, na próxima segunda, uma nova coleção de livros que, sem serem didáticos, esmiúçam temas da literatura.
Sob o nome de "Como e por que Ler", a série se abre com dois assuntos capazes de despertar pruridos nos jovens avessos aos livros, poesia brasileira do século 20 e clássicos universais, firmados, porém, por gente bamba: o crítico e professor Italo Moriconi e a escritora Ana Maria Machado.
Moriconi, 48, já é uma espécie de "talismã" da Objetiva. Foram responsabilidade dele dois dos títulos mais bem-sucedidos da editora, as antologias "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século" e "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século".
O êxito dos dois livros de Moriconi certamente pesou quando Isa Pessôa começou a procurar "autores que pudessem escrever livros perspicazes sobre por que ler é bom" -premissa que a diretora editorial vê na coleção.
Autora de 109 títulos (entre ficção e não-ficção, para adultos e infanto-juvenis), Ana Maria Machado, 60, discorre com paixão sobre o hábito da leitura, em palestras país afora e em suas obras ensaísticas. É o caso do recente "Texturas" (Nova Fronteira, R$ 26), em que ela já defendia o "direito a ler os clássicos", idéia que retoma no livro da nova coleção.

Guias sentimentais
Ponto em comum para os dois autores é o fato de definirem seus livros como muito "pessoais".
Ana Maria Machado abre "Como e por que Ler os Clássicos Universais desde Cedo" relembrando sua descoberta de "Dom Quixote", de Cervantes, em leituras feitas pelo pai.
Para ela, "o primeiro contato com clássicos deve ser muito prazeroso". "Para entrar nesse universo desde cedo, não precisa ler a "Ilíada" em versos. Eu trabalho muito com a narrativa clássica e eu acho que tem que ser uma boa história, porque é o que eles são."
A estrutura de seu livro, portanto, seguiu a "memória afetiva". "Fiquei pensando nos livros que li e que me deram muito prazer, os clássicos com os quais tenho uma relação de paixão. Não queria fazer cronológico e não queria fazer um receituário, livros que "todo mundo tem que ler", porque eu não acho que é "tem que ler"."
A experiência da ex-professora se soma a eixos críticos pinçados de Harold Bloom e Italo Calvino, amarrando num feixe harmonioso epopéias de Homero e invenções de Monteiro Lobato, Shakespeare, Dickens e contos de fada.
Já o livro de Moriconi persegue a "moldura cultural do poema". "Fiz recortes sobre três momentos básicos: o modernismo, a vanguarda concreta e o final do século, o pós-modernismo", explica.
Isso, porém, se coloca após um primeiro capítulo teórico, que assume que, no contexto nacional, letra de canção é poesia -visão polêmica entre os literatos. Mas não há, em "Como e por que Ler a Poesia Brasileira do Século 20", análises de exemplos do cancioneiro popular, por rico que seja.
A teoria do começo é uma espécie de salvo-conduto para o que segue: "um gesto de defesa da poesia canônica", que permita entender o que o momento atual da poesia nacional -definido por Moriconi como "maravilhoso", muito "sofisticado"- herdou do apogeu do século 20. Tudo num esforço, diz o autor, de forjar no leitor um discurso e um olhar.
(FRANCESCA ANGIOLILLO)


COMO E POR QUE LER OS CLÁSSICOS UNIVERSAIS DESDE CEDO.
De: Ana Maria Machado. Editora: Objetiva (www.objetiva.com.br, tel. 0/xx/21/ 2556-7824). 146 págs. R$ 19.

COMO E POR QUE LER A POESIA BRASILEIRA DO SÉCULO 20. De: Italo Moriconi. Idem. 156 págs. R$ 19.



Texto Anterior: "O Périplo de Baldassare": Amin Maalouf utiliza busca como pretexto
Próximo Texto: "Ex-libris: Confissões de uma leitora comum": O luxo doméstico das letras
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.