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POESIA
Após elogios de Antonio Houaiss e Manoel de Barros, o escritor carioca lança seu segundo livro, "Breve Encontro"
Pedro Amaral "aprisiona" o indizível
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os versos precisos e as rimas
minuciosas que formam "Breve
Encontro" fazem de Pedro Amaral, 27, um poeta contemporâneo
que quer comunicar. Fugindo dos
devaneios teóricos, o escritor carioca rompe as amarras do discurso literário padrão.
"Admito que não entendo muitos poemas que tenho visto publicados." À poesia recente, Amaral
contrapõe a clareza da prosa de
economistas como Celso Furtado.
E, sem o "verniz da erudição",
diz-se lisonjeado com o amigo
que leva um de seus poemas no
bolso para conquistar as meninas.
Filósofo e mestrando em relações internacionais, o poeta lançou o primeiro livro, "Vívido",
em 95, com prefácio do amigo da
família Antonio Houaiss. Já recebeu elogios de importantes nomes da literatura nacional, como
do pantaneiro Manoel de Barros.
Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha Quando o sr. começou a se
interessar por poesia?
Pedro Amaral - Desde que aprendi a ler e escrever fui tomando
gosto por fazer coisas em versos,
como uma forma de brincar com
as palavras, mesmo sem entender
bem o significado delas. Esse hábito passou a ser mais frequente
na adolescência e, por essa época,
surgiu a vontade de publicar. Não
sou obcecado por isso: leio quase
somente aquilo de que gosto (por
isso não logrei adquirir um verniz
de erudição no assunto), seguindo dicas de amigos, e passo longos períodos sem escrever.
Folha - É difícil ser um poeta jovem no Brasil?
Amaral - Escrever poesia sempre
implica algum grau de dificuldade. No que se refere à divulgação
de trabalhos desconhecidos, no
entanto, existem empecilhos, hoje, no Brasil, que dizem muito do
modo como se articula a tríade literatura-mídia-mercado. Outro
problema é que a crítica é escassa,
e o seu nível é em geral muito baixo, pois o trabalho é comumentemente entregue a pessoas que carecem do devido preparo, ou a
pessoas até capacitadas, mas que
se deixam levar pela tentação de
"exercer o poder", atacando ou
bajulando, em vez de estabelecer
um diálogo criativo com o autor.
Folha - Seus versos eternizam
momentos indizíveis. Seja a morte/ocaso, seja o caminhar da garota. Como é aprisionar esses breves
encontros?
Amaral - Também tenho observado isso. A minha poesia parece
ter uma vertente erótica e outra,
por assim dizer, trágica. Sobre o
modo de "aprisionamento" desses momentos, primeiramente
sou atingido por eles, comovido,
e, depois, tento trazer para a forma de palavras suas repercussões.
Escrever envolve uma aprendizagem, uma "educação do olhar"
que procuro compartilhar ao fazer e dar a ver um poema.
Folha - Sua maneira de escrever
lembra João Cabral. É inspiração?
Amaral - Sim, a poesia de João
Cabral de Melo Neto é uma referência importante para mim, como o é para muitos que escrevem
poesia hoje no Brasil. Acho que isso se deve à sua musicalidade e ao
privilégio dado à comunicação
com o leitor, em detrimento de
um intimismo, um ensimesmamento que tradicionalmente
marcam a nossa produção poética. Por outro lado, acho que essa
influência de Cabral tem também
um aspecto negativo à medida
que o "cabralismo" se traduz na
substituição do sentimentalismo
pelo cerebralismo -sentimentos
pessoalíssimos dão lugar a cadeias de referências intelectuais
muito restritivas, gerando uma
"poesia para iniciados".
BREVE ENCONTRO. De: Pedro Amaral.
Editora: Rocco. Quanto: R$ 18 (128 págs.)
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