São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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POESIA

Após elogios de Antonio Houaiss e Manoel de Barros, o escritor carioca lança seu segundo livro, "Breve Encontro"

Pedro Amaral "aprisiona" o indizível

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Os versos precisos e as rimas minuciosas que formam "Breve Encontro" fazem de Pedro Amaral, 27, um poeta contemporâneo que quer comunicar. Fugindo dos devaneios teóricos, o escritor carioca rompe as amarras do discurso literário padrão.
"Admito que não entendo muitos poemas que tenho visto publicados." À poesia recente, Amaral contrapõe a clareza da prosa de economistas como Celso Furtado. E, sem o "verniz da erudição", diz-se lisonjeado com o amigo que leva um de seus poemas no bolso para conquistar as meninas.
Filósofo e mestrando em relações internacionais, o poeta lançou o primeiro livro, "Vívido", em 95, com prefácio do amigo da família Antonio Houaiss. Já recebeu elogios de importantes nomes da literatura nacional, como do pantaneiro Manoel de Barros. Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha Quando o sr. começou a se interessar por poesia?
Pedro Amaral -
Desde que aprendi a ler e escrever fui tomando gosto por fazer coisas em versos, como uma forma de brincar com as palavras, mesmo sem entender bem o significado delas. Esse hábito passou a ser mais frequente na adolescência e, por essa época, surgiu a vontade de publicar. Não sou obcecado por isso: leio quase somente aquilo de que gosto (por isso não logrei adquirir um verniz de erudição no assunto), seguindo dicas de amigos, e passo longos períodos sem escrever.

Folha - É difícil ser um poeta jovem no Brasil?
Amaral -
Escrever poesia sempre implica algum grau de dificuldade. No que se refere à divulgação de trabalhos desconhecidos, no entanto, existem empecilhos, hoje, no Brasil, que dizem muito do modo como se articula a tríade literatura-mídia-mercado. Outro problema é que a crítica é escassa, e o seu nível é em geral muito baixo, pois o trabalho é comumentemente entregue a pessoas que carecem do devido preparo, ou a pessoas até capacitadas, mas que se deixam levar pela tentação de "exercer o poder", atacando ou bajulando, em vez de estabelecer um diálogo criativo com o autor.

Folha - Seus versos eternizam momentos indizíveis. Seja a morte/ocaso, seja o caminhar da garota. Como é aprisionar esses breves encontros?
Amaral -
Também tenho observado isso. A minha poesia parece ter uma vertente erótica e outra, por assim dizer, trágica. Sobre o modo de "aprisionamento" desses momentos, primeiramente sou atingido por eles, comovido, e, depois, tento trazer para a forma de palavras suas repercussões. Escrever envolve uma aprendizagem, uma "educação do olhar" que procuro compartilhar ao fazer e dar a ver um poema.

Folha - Sua maneira de escrever lembra João Cabral. É inspiração?
Amaral -
Sim, a poesia de João Cabral de Melo Neto é uma referência importante para mim, como o é para muitos que escrevem poesia hoje no Brasil. Acho que isso se deve à sua musicalidade e ao privilégio dado à comunicação com o leitor, em detrimento de um intimismo, um ensimesmamento que tradicionalmente marcam a nossa produção poética. Por outro lado, acho que essa influência de Cabral tem também um aspecto negativo à medida que o "cabralismo" se traduz na substituição do sentimentalismo pelo cerebralismo -sentimentos pessoalíssimos dão lugar a cadeias de referências intelectuais muito restritivas, gerando uma "poesia para iniciados".

BREVE ENCONTRO. De: Pedro Amaral. Editora: Rocco. Quanto: R$ 18 (128 págs.)


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