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FILARMÔNICA DE NOVA YORK
Kurt Masur se despede da orquestra
ANTHONY TOMMASINI
DO "NEW YORK TIMES"
Kurt Masur chegou sem remorsos à Filarmônica de
Nova York em 1991 como um regente da velha escola: autoritário,
exigente, cáustico quando insatisfeito e avaro quanto a elogios. Os
músicos ficaram abalados com o
comportamento intransigente do
maestro alemão. Mas não demoraram muito a aceitar o amor severo de Masur. Sabiam que precisavam dele.
Os padrões haviam decaído seriamente durante o período em
que Zubin Mehta foi o diretor
musical da orquestra, antes que
Masur assumisse. A tensão dentro do grupo era palpável durante
os concertos.
Em seus mais de 20 anos como
kapellmeister da Leipzig Gewandhaus Orchestra, Masur havia
conquistado reputação internacional como músico formidável e
consumado formador de orquestras. Ele foi trazido para restabelecer a disciplina, reconectar a filarmônica ao seu núcleo alemão de
repertório e, acima de tudo, para
fomentar o respeito mútuo entre
os músicos.
Anteontem à noite Masur subiria ao palco no Avery Fisher Hall
para reger o primeiro de três programas em noites consecutivas:
são seus últimos concertos como
diretor musical na série regular de
apresentações da orquestra.
Não importa que critério empreguemos em nossa análise, Masur realizou aquilo que lhe haviam solicitado. E como o conselho da filarmônica o recompensou? Rescindindo o seu contrato.
Como todos os diretores musicais, ele tinha limitações. Se bem
que em sua melhor forma a filarmônica toque soberbamente,
houve muitas noites ao longo dos
anos em que os músicos fizeram
apresentações curiosamente apáticas. E, além disso, Masur não se
inclina ao experimental. E nem foi
assíduo na execução de compositores contemporâneos.
A melhor maneira pela qual o
conselho poderia ter tratado das
limitações de Masur seria na escolha de seu sucessor. Mas isso não
aconteceu. Não importa que qualidades tenha como regente, Lorin
Maazel jamais foi um inovador
em termos de programas, do tipo
que a filarmônica bem poderia
usar agora.
Ainda assim, enquanto Masur
se transfere para a diretoria da Orchestre National de France e continua suas muitas outras associações musicais, as realizações dele
à testa da Filarmônica se destacam mais do que nunca.
Alguns consideram Masur um
intérprete prosaico, mais preocupado com a retidão musical do
que com a espontaneidade. Mas,
com o repertório certo, ele apresenta desempenhos inspirados.
Durante seu período à frente da
orquestra, os elevados ideais de
Masur sobre o poder transformador da música às vezes inspiravam piadas. Até o dia 11 de setembro. Quando Masur abriu a temporada da filarmônica nove dias
depois dos ataques terroristas
com uma sublime interpretação
do "Réquiem" de Brahms, transmitida ao vivo para todo o país
pela televisão, sua escolha de repertório provou-se perfeita, um
réquiem cuja preocupação maior
é dar consolo aos sobreviventes.
É evidente que Masur não desempenhou papel nenhum na
busca por seu sucessor, porque foi
afastado do processo sem nenhuma cerimônia, quatro anos atrás,
quando foi anunciado que a temporada 2001/2002 seria sua última. O conselho disse que agiu
com antecedência para garantir
que haveria tempo suficiente para
encontrar um novo e excitante regente titular. Na verdade, a atitude foi inepta. Masur não oculta
mais sua mágoa diante do fato.
Em entrevista concedida a Charlie
Rose no dia 21 de maio, para a TV
educativa norte-americana,
quando perguntado por que estava deixando a orquestra, Masur
respondeu, abruptamente: "A decisão não foi minha".
A única justificativa para afastar
Masur do cargo prematuramente
teria sido recrutar um maestro jovem capaz de desafiar o status
quo, se aproximar de compositores e atrair novas audiências.
Maazel, 72, merece uma chance
de provar sua capacidade. Ele é
um técnico brilhante e um cérebro musical poderoso. Mas ocasionalmente suas interpretações
são idiossincráticas, e ele é ainda
mais obcecado com detalhes do
que Masur.
Masur acreditava firmemente
que tinha mais a dar a Nova York.
Dois dias depois de seus acerbos
comentários diante de Rose sobre
a maneira pela qual foi tratado pela maioria do conselho, Masur
conduziu a orquestra em uma
magnífica leitura da "Terceira
Sinfonia" de Bruckner. Antes do
concerto, ele tomou parte em
uma cerimônia, no palco, em
honra de dois veteranos músicos
da filarmônica que se estão aposentando depois de, respectivamente, 38 e 50 anos na orquestra e
homenageando os 25 anos de trabalho de dois outros músicos.
"Esta é uma orquestra com a
qual você sonha, como regente",
disse Masur. Ele continua claramente dedicado aos músicos e,
com toda justiça, orgulhoso da
era Kurt Masur.
Tradução de Paulo Migliacci
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