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ROCINHA/FOTOGRAFIA
André Cypriano explora favela sem glamourização da miséria
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A favela da Rocinha é um
mundo que divide ao meio
boa parte (ou a parte boa?) da zona sul do Rio, encravada que fica
com seus milhares de habitantes
entre São Conrado de um lado e
Gávea e Leblon do outro.
A maior favela do Brasil (dizem
que também do mundo...) permite que se faça tudo com o que ela
ostenta: que se mostre a miséria, o
tráfico de drogas, a capacidade de
sobrevivência de seus habitantes,
seus rostos sofridos e eventualmente poéticos, a arquitetura
anarco-carnavalesca de sua infinidade de moradias toscas.
Ou seja, a Rocinha é um turbilhão de imagens que podem ser
captadas e ordenadas de mil maneiras possíveis.
O fotógrafo André Cypriano escolheu uma abordagem inteligente para expor sua visão da Rocinha, registrada em 45 fotos em
preto-e-branco (o colorido que
me desculpe, mas o preto-e-branco é fundamental para o entendimento da linguagem fotográfica)
atualmente em exposição na Pinacoteca do Estado, com curadoria de Diógenes Moura.
Está tudo ali: a miséria material
e humana, a negritude gritante, a
infância violentada, a poesia possível dentro do caos urbano, a paisagem que se impõe e transborda
e interage com a cidade-cenário
maravilhosa.
O importante é como isso tudo
acontece nas fotos.
Cypriano não cedeu à tentação
de explorar luzes e sombras para:
1 - fazer denúncia social por intermédio de realismo chocante;
2 - glamourizar a miséria para
tentar conquistar o coração do espectador com o apelo piegas de
uma poesia desqualificada.
Não, a poesia dele não é barata,
tampouco o fotógrafo deixa de lado a denúncia social ou o glamour, este identificável principalmente nas imagens de rostos e
corpos negros reluzentes -referência óbvia a Mário Cravo Neto.
Mas não fica aí.
Explora a profundidade de
campo e o "background" que a favela fornece de graça para criar
um lirismo tocante (exemplo disso é a foto do pai com o bebê).
Assim como oferece pistas de
que a vida ali não tem apenas a cara triste das crianças desvalidas;
há também a força e a raça, exibidas com humor no diálogo de expressões dos dois rapazes em plena função hip hop.
Para completar esse quadro, fotos aéreas permitem perceber o
quanto a coisa é grande e séria.
Além de alcançar notável qualidade estética, o trabalho de
Cypriano ainda cumpre aquele
bom e velho papel da fotografia,
que é o de aglutinar elementos para que se vivencie e se interprete
uma realidade.
Rocinha
Artista: André Cypriano
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, região central, SP, tel. 0/xx/11/
229-9844)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h,
até 23 de junho
Quanto: entrada franca
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