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"Político é político, artista é artista"
GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Fazia uns oito anos que não nos
víamos, desde "O Sorriso do Gato
de Alice", um show polêmico de
que fui diretor e parceiro.
Ultimamente, tenho lido coisas
injustas a respeito dela. O fato de
ter apoiado um amigo, ACM, repercutiu como apoio político. Pena, porque Gal Costa é um nome
acima de qualquer suspeita. Tem
uma história, um currículo que a
coloca junto às figuras mais importantes do país.
Queria reintroduzir, nesta entrevista, a grande diva da MPB.
Sua arte está na voz, no sorriso e
nos gestos peculiares e mais que
imitados. Ela não deve ser julgada
por nada, a não ser por sua obra.
Leia trechos, a seguir.
Gerald Thomas - Eu tenho recomendação da Redação para falar
do evento. Antes vou fazer uma introdução. Acho que você não tem a
menor necessidade de ser uma pessoa política. A política é uma coisa
nojenta. Você foi pessoal, amorosa. Se acusam, são todos encarapuçados, porque o ACM não é o último
dos últimos. Esse é meu comentário. Qual é o seu?
Gal Costa - Bom, deram uma cotação desmedida à minha atitude,
de ir encontrar ACM, porque
houve um mal-entendido. Eu não
sei por que, se foi proposital ou
não. Eu fui encontrar ACM naquele dia em Salvador, no palácio
Ondina, não para dar o meu
apoio ao ato político do homem,
mas para dar meu apoio moral a
uma pessoa que fez muito pela
cultura da Bahia.
Thomas - Falam-me que este é o
melhor disco da sua carreira. Eu
quero que você fale...
Gal - É, eu quero deixar uma coisa clara, eu vou voltar ao assunto
Antonio Carlos: não foi apoio político de forma nenhuma. Foi
apoio moral.
Eu acho que apoio moral você
pode dar a um amigo que comete
um erro. Cada macaco no seu galho. Político é político, artista é artista.
Eu acho também que eu nunca
mamei nas tetas do governo.
Nunca tive ajuda de governo e
nunca apoiei governo nenhum.
Portanto, posso dizer que sou
uma pessoa apolítica. Não tenho
partido. Tenho total liberdade,
não tenho o rabo preso.
Sou uma pessoa íntegra. Ninguém, ninguém pode duvidar da
minha integridade. Minha história está aí para provar. Senti-me
maltratada e injustiçada... As pessoas esquecem uma biografia, toda uma história que é construtiva,
que é importante neste país, que
tem que ser valorizada.
Thomas - Por que a imprensa brasileira tem essa fome de maldade?
Gal - A Música Popular Brasileira, a MPB, a minha geração toda e
a geração anterior à minha, é muito maltratada. O Brasil não preserva e não dá valor ao que ele
tem. O Brasil não, a imprensa do
Brasil não dá valor ao que o Brasil
tem de mais precioso, que é a sua
cultura.
A imprensa é colonizada, tem
tendência a querer destruir os
seus artistas, os seus melhores artistas, ao contrário do que fazem
os americanos. Eles botam para
cima o que produzem.
Thomas - O Brasil degrada quem
fica no Brasil. É por isso que todo
mundo vai embora.
Gal - Fazer sucesso, muito sucesso, o sucesso que ele [Caetano Veloso" fez fora do Brasil, o brasileiro fica insultado com isso. Não o
público, as pessoas, mas a mídia.
As pessoas que manipulam a mídia de maneira geral. Isso é engraçado, porque o Brasil é um país
colonizado e age como tal. Valoriza muito o que vem de fora e destrói o que é dele, um produto que
é do Brasil, que vai para fora e fica
grande demais. Mas eu queria finalizar essa história...
Thomas - De quem, do ACM?
Gal - Não, tem uma coisa muito
engraçada. As pessoas me cobram, sobre o novo disco: "Ah,
você diz que é um disco clássico,
você optou pelo mais fácil, você é
uma pessoa que costuma ousar".
As pessoas falam assim, nunca estão satisfeitas com nada. Quando
faço um disco clássico, ficam colocando que eu fiz uma coisa ousada. Quando faço uma coisa ousada, reclamam porque fiz coisa
ousada, então, eu não sei. Nunca
estão satisfeitas.
Este é um disco clássico. É um
disco em que regravei canções
que já foram gravadas por mim e
canções que já foram gravadas
por outros artistas e que eu tinha
vontade de regravar. Ele é um disco bem diversificado.
Gerald Thomas é diretor de teatro.
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