São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2005

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Compositor- residente é bom modelo

DO ENVIADO ESPECIAL

Trânsito insuportável, ruas apinhadas, preços escorchantes, infra-estrutura precária, poluição visual e sonora: Campos do Jordão, em alta temporada, assemelha-se de maneira assustadora a um bairro "fake" de São Paulo.
Se há algo que finalmente não é "fake" em Campos do Jordão é o nível artístico do Festival Internacional de Inverno. Pode-se questionar o modelo implantado por seu diretor artístico, Roberto Minczuk. Mas, agora, pelo menos há um modelo a ser discutido.
Durante anos, o festival parecia com um mico, um abacaxi que a Secretaria Estadual da Cultura tocava adiante porque se sentia constrangida a fazê-lo, mas sem noção de como levá-la.
Minczuk chegou no ano passado, cheio de idéias e inovações, dentre as quais a mais benéfica, sem dúvida, é a do compositor-residente.
Em todo o planeta, a criação contemporânea tem dificuldades de inserção e divulgação, premida por uma injusta e despropositada competição com a produção dos mestres do passado. No Brasil, é raro o caso de compositor que consiga viver de seu ofício, e contar com uma obra executada fora do "gueto" dos eventos de música contemporânea constitui acontecimento quase miraculoso.
Pois bem: em Campos do Jordão, o compositor-residente não apenas ministra aulas, como ainda tem várias de suas obras executadas pelos intérpretes do festival. E ainda recebe a incumbência de escrever uma composição para o evento, que recebe não apenas execução pública como ainda é registrada em CD.
Em 2005, o compositor-residente foi Almeida Prado, um dos mais férteis e criativos autores brasileiros, que, inexplicavelmente, andava meio esquecido em sua casa, no bairro paulistano das Perdizes. Para o ano que vem, anuncia-se outro nome expressivo, o catarinense radicado no Rio Edino Krieger, presidente da Academia Brasileira de Música.
A escolha de um eixo temático também auxilia a dar um norte para a programação do festival. Orientando-se por ele, o evento tem feito escolhas imaginativas nas óperas que encena. Não haveria sentido em competir com o Municipal de São Paulo ou com a Osesp. Trazem-se, assim, títulos negligenciados, como a ópera "L'Infedeltà Delusa", de Haydn, em 2004, ou "A Queda da Casa de Usher", do americano Philip Glass, neste ano, cujo tema foi "A Música das Américas".
Em 2006, o festival deve lembrar efemérides como o 250º aniversário de Mozart, bem como o centenário de Shostakovich.
Quanto aos concertos, a lista de artistas convidados do evento fala por si: o que esperar de Kurt Masur, Beaux Arts Trio, Manuel Barrueco, Arnaldo Cohen, Jean-Louis Steuerman? Vê-los tocar já seria pedagógico o suficiente, mas eles compartilharam seu saber com os alunos, como fizeram nomes menos conhecidos, mas fundamentais em seus instrumentos, como o violinista Cláudio Cruz, o oboísta Isaac Duarte e os fagotistas Fábio Cury e Afonso Venturieri, entre muitos outros. (IFP)


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