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Compositor-
residente é
bom modelo
DO ENVIADO ESPECIAL
Trânsito insuportável, ruas apinhadas, preços escorchantes, infra-estrutura precária, poluição
visual e sonora: Campos do Jordão, em alta temporada, assemelha-se de maneira assustadora a
um bairro "fake" de São Paulo.
Se há algo que finalmente não é
"fake" em Campos do Jordão é o
nível artístico do Festival Internacional de Inverno. Pode-se questionar o modelo implantado por
seu diretor artístico, Roberto
Minczuk. Mas, agora, pelo menos
há um modelo a ser discutido.
Durante anos, o festival parecia
com um mico, um abacaxi que a
Secretaria Estadual da Cultura tocava adiante porque se sentia
constrangida a fazê-lo, mas sem
noção de como levá-la.
Minczuk chegou no ano passado, cheio de idéias e inovações,
dentre as quais a mais benéfica,
sem dúvida, é a do compositor-residente.
Em todo o planeta, a criação
contemporânea tem dificuldades
de inserção e divulgação, premida
por uma injusta e despropositada
competição com a produção dos
mestres do passado. No Brasil, é
raro o caso de compositor que
consiga viver de seu ofício, e contar com uma obra executada fora
do "gueto" dos eventos de música
contemporânea constitui acontecimento quase miraculoso.
Pois bem: em Campos do Jordão, o compositor-residente não
apenas ministra aulas, como ainda tem várias de suas obras executadas pelos intérpretes do festival.
E ainda recebe a incumbência de
escrever uma composição para o
evento, que recebe não apenas
execução pública como ainda é
registrada em CD.
Em 2005, o compositor-residente foi Almeida Prado, um dos
mais férteis e criativos autores
brasileiros, que, inexplicavelmente, andava meio esquecido em sua
casa, no bairro paulistano das
Perdizes. Para o ano que vem,
anuncia-se outro nome expressivo, o catarinense radicado no Rio
Edino Krieger, presidente da Academia Brasileira de Música.
A escolha de um eixo temático
também auxilia a dar um norte
para a programação do festival.
Orientando-se por ele, o evento
tem feito escolhas imaginativas
nas óperas que encena. Não haveria sentido em competir com o
Municipal de São Paulo ou com a
Osesp. Trazem-se, assim, títulos
negligenciados, como a ópera
"L'Infedeltà Delusa", de Haydn,
em 2004, ou "A Queda da Casa de
Usher", do americano Philip
Glass, neste ano, cujo tema foi "A
Música das Américas".
Em 2006, o festival deve lembrar
efemérides como o 250º aniversário de Mozart, bem como o centenário de Shostakovich.
Quanto aos concertos, a lista de
artistas convidados do evento fala
por si: o que esperar de Kurt Masur, Beaux Arts Trio, Manuel Barrueco, Arnaldo Cohen, Jean-Louis Steuerman? Vê-los tocar já
seria pedagógico o suficiente, mas
eles compartilharam seu saber
com os alunos, como fizeram nomes menos conhecidos, mas fundamentais em seus instrumentos,
como o violinista Cláudio Cruz, o
oboísta Isaac Duarte e os fagotistas Fábio Cury e Afonso Venturieri, entre muitos outros.
(IFP)
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