São Paulo, Quarta-feira, 01 de Setembro de 1999
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CINEMA
56ª edição do festival italiano começa com "Eyes Wide Shut", o último filme de Stanley Kubrick
Veneza 99 aposta em revelações

France Presse
Operários instalam o cartaz oficial do Festival de Veneza 99


AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza

O lançamento europeu de "De Olhos Bem Fechados", de Stanley Kubrick -que estréia no Brasil na sexta-, abre hoje a ousada 56ª Mostra Internacional da Arte Cinematográfica de Veneza (Itália). O novo diretor do evento, Alberto Barbera, aposta tudo na revelação de jovens talentos. A mudança de rumos condiz com seu currículo.
Barbera, crítico e curador, responsável pelo Festival de Cinema Jovem de Turim, é o quarto diretor do festival em dez anos. Sucede Guglielmo Biraghi, Gillo Pontecorvo e Felice Laudadio.
Neste período, o pêndulo curatorial continuou oscilando entre o grande festival de estrelas -mais próximo de Hollywood, numa espécie de Cannes do segundo semestre- e um evento mais dedicado à produção independente e ao cinema de autor -como em Roterdã e Locarno. Pontecorvo apostou na primeira fórmula, Biraghi e Laudadio, na segunda.
Laudadio demitiu-se no último dia de Veneza 98 criticando a direção da Bienal de Veneza, a entidade responsável pelo evento. Laudadio saiu defendendo uma radical reforma no evento, com a abolição da mostra competitiva.
Barbera o sucede estreando com alterações mais sensatas. Enxugou sensivelmente o festival, reduzindo o número de filmes (126 no total) e de mostras (nove).
"Veneza 56" reúne os concorrentes ao Leão de Ouro e os filmes fora de concurso, como os de abertura, encerramento e o novo Woody . Em "Homenagens", serão celebrados o diretor e cômico Jerry Lewis -com um Leão de Ouro especial- e a memória de Akira Kurosawa -com "Rashomon". O projeto em que trabalhava Kurosawa, "Ame Agaru" (Depois da Chuva), terminado por Takashi Koizumi, será projetado na próxima segunda.
"Cinema do Presente" é a mostra paralela dedicada a tendências contemporâneas do filme narrativo mais tradicional. "Sonhos e Visões" enfoca, por sua vez, a produção mais experimental. "Novos Territórios" apresenta obras variadas, para além das limitações de formato e estilo.
Apenas filmes de animação estão fora da disputa do formato em "Curta-Curtíssimo". "Passado Presente" apresenta tesouros da cinemateca em novas versões. A "Semana Internacional da Crítica" destaca sete filmes de estreantes. Por fim, "Eventos Especiais" celebra as obras de Luchino Visconti e Alfred Hitchcock.
O cinema norte-americano surge como o mais bem representado, com um total de 19 produções. Há os diretores carimbados de sempre, fundamentais para o prestígio de qualquer mostra, como Woody Allen, Jane Campion e Martin Scorsese, e filmes de estúdio assinados pelos cultuados David Fincher e Wes Craven. Mais numerosas, porém, são as produções independentes de jovens realizadores.
Barbera não reservou um ciclo especial para o cinema italiano, mas garantiu-lhe forte presença. Nada menos que 17 produções inéditas estão dispersas pelas diversas mostras, incluindo duas em competição. Do ponto de vista do mercado internacional, em coerência com o desenho maior do evento, a lista também aposta em cineastas a descobrir.
Apesar de uma maior atenção para as cinematografias fora do eixo Roma-Los Angeles, a participação do cinema latino-americano é bastante limitada. Apenas quatro títulos. Dois são brasileiros, ambos para o ciclo paralelo "Novos Territórios"": o longa "São Jerônimo", de Júlio Bressane, e o curta "Volte Sempre, Abbas!", de Renata de Almeida e Leon Cakoff. O argentino "Mundo Grua", de Pablo Trapero, estará na Semana da Crítica e o equatoriano "Ratas, Ratonas, Rateros", de Sebastian Cordero, no ciclo Cinema do Presente. E é só.


O crítico Amir Labaki viaja a Veneza a convite da organização do festival.


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