HENRI CARRIÈRES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Desnecessário explicar por que a visita a bancas de jornais não costuma ser uma viagem no tempo. Mas e se, em vez de manchetes com os fatos mais recentes, as publicações expostas datassem de décadas tão remotas quanto a primeira do século passado? O resultado seria uma banca-antiquário como A Cena Muda, aberta em Ipanema, no Rio, perto da praça General Osório.
Em A Cena Muda, o presente está banido. Seu acervo é composto de cerca de 5.000 revistas brasileiras e de fora que circularam entre o começo do século 20 e a década de 70.
"Tenho quase todos os títulos nacionais publicados nesse período", diz a goiana Adda di Guimarães, autora da idéia e sobrinha-neta da poeta Cora Coralina (1889-1985).
No começo foi difícil convencer as autoridades municipais a deixá-la vender revistas antigas em uma banca. Além de ser proibido, "entenderam que ia ficar uma coisa horrível no meio da rua, tudo sujo, rasgado".
A permissão veio por interferência do próprio prefeito César Maia (PFL), para quem Di Guimarães mandou um e-mail explicando do que se tratava. No mesmo dia recebeu resposta de Maia, dizendo que havia gostado muito da proposta. Pouco dias depois, saía um decreto com a autorização para a venda de revistas antigas em bancas.
As revistas brasileiras mais antigas de A Cena Muda -e também as mais caras, a R$ 70 a unidade- são exemplares da "Kosmos - Revista Artistica, Scientifica e Literaria" -dois de 1905 e um de 1907. Nos "summarios", nomes como Olavo Bilac, Afonso Arinos, José Veríssimo, Oliveira Lima e Capistrano de Abreu. Ainda dessa época, há exemplares de "Fon-Fon", famosa por satirizar de forma impiedosa a política e os políticos da República Velha (1889-1930).
Entre as revistas importadas, há uma "Paris Match" de 1961 sobre a morte de Hemingway, uma "Time" de 1967 com reportagem de capa sobre a pílula anticoncepcional, muitas "Punch", "Cahiers du Cinéma", "The New Yorker" e "Life". A banca também oferece cartões-postais, gibis e papéis antigos em geral.


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