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"THOMAS MANN, O ARTISTA MESTIÇO"
Origem brasileira participa de desvio do escritor
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Thomas Mann, o Artista
Mestiço" coloca a sociologia da cultura em alto nível, porque é corajoso, sutil, muito bem
escrito, profundo e alheio a modismos acadêmicos vigentes. Para
nós, brasileiros, é a grata e jubilosa revelação de como um jovem
autor nacional é capaz de discorrer sobre as questões universais
da arte e da literatura.
O antecedente dessa empreitada é Sérgio Buarque de Holanda
entrevistando Thomas Mann
(1875-1955), o qual falou de sua
mãe brasileira como sendo um fator determinante em sua escrita.
Nascido em Taquaritinga, à beira da estrada de ferro Araraquara,
no interior de São Paulo, Richard
Miskolci aborda o escritor da Alemanha, Thomas Mann, o misturado, filho de mãe de Parati com
um pai alemão senador. Escreve
Miskolci: "Thomas Mann foi o artista burguês, respeitável e criador
de obras responsáveis e seu hipotético oposto, o artista mestiço,
degenerado e possível criador de
obras perigosas para a sociedade
burguesa. O escritor alemão construiu sua obra sobre a frágil dicotomia entre a norma e o desvio".
O assunto é o intelectual artista
e seu destino na sociedade de
mercado capitalista, na qual a
ciência é o discurso hegemônico
que faz a patologia da arte dissidente. Decorre daí, das relações
mercantis e repressivas, que o artista é o negativo do burguês, mais
ou menos o boêmio como sendo
o contrário do burguês celebrizado por Oswald de Andrade.
Júlia da Silva é o nome da mãe
brasileira do moreninho Thomas
Mann que, aos 37 anos de idade,
era cotado ao Prêmio Nobel de literatura no país de Hitler, de modo que não é barra leve o imaginário de Mann, em cuja identidade
artística ele se autocompreendia
na genética de sua mãe estrangeira. Na sociedade patriarcal, pragmática e capitalista, a literatura é o
desvio psicossocial da ordem. A
sorte e o infortúnio do intelectual
que teve mãe exótica, tesuda, devaneante, bonita e inteligente.
Miskolci analisa em profundidade a obra de Mann, portanto
não se trata de biografismo na ênfase que concede à herança materna na formação do artista com
pensamento perigoso, "autor
marcado por sua origem brasileira mestiça, e de sua postura marginal na sociedade burguesa alemã no período imperialista".
O caráter antiartístico do capitalismo se mescla, no caso de Mann,
à circunstância de ser fruto de um
casamento inter-racial. É como se
"Casa Grande e Senzala" tivesse
sendo anunciada 30 anos antes
com o romance "Tonio Kröger".
O detalhe é que na Alemanha, final do século 19, o Brasil era demonizado como exótico e acometido de doenças tropicais.
Thomas Mann, o Artista Mestiço
Autor: Richard Miskolci
Editora: Annablume
Quanto: R$ 25 (163 págs.)
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