São Paulo, terça-feira, 01 de novembro de 2005

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MÚSICA

Irmão de Henfil e Betinho, compositor é relembrado em edição de luxo

Livro reúne canções de Chico Mário

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Chico Mário foi o outro "irmão do Henfil". Foi ainda um grande violonista e compositor, morto aos 39 anos, em 1988, do mesmo mal que abateu os irmãos Henfil, cartunista, e Herbert de Souza, o Betinho, sociólogo: Aids contraída em transfusão de sangue.
Percebendo, há dois anos, que pouca gente conhece essa história, o pianista Marcos Souza resolveu reuni-la em um livro: "Francisco Mário - Vida e Obra", um livrão modelo luxo.
"Eu me sinto feliz por estar registrando a obra completa dele, uma obra que só eu toco, praticamente. É um fardo grande. Agora, mais pessoas podem se interessar em tocá-la", anseia Souza, 35, que, pouco depois da morte do pai, lançou discos inéditos de Chico Mário e iniciou uma longa batalha pelo seu reconhecimento.
O livro traz partituras de 89 composições, transcritas de maneira simples, só acordes e cifras, para que qualquer violonista possa tocar -a exceção são as peças do disco "Dança do Mar", feitas para quarteto de cordas.
Ainda traz uma cronologia, um perfil biográfico assinado pela viúva, Nivia Souza, e quatro CDs que reúnem todas as gravações de Chico Mário. Em cada CD, há dois dos oito discos que ele fez, sendo que "Tempo", o oitavo, estava até hoje inédito.

Instrumental
"Ficou um disco de voz e violão, com algumas participações. A idéia dele era ter mais músicos, mas não houve tempo. E eu resolvi deixar como está. É fácil perceber a diferença na voz em relação aos primeiros discos, pois ele já estava muito fraco", conta Souza.
Nos dois discos iniciais de sua carreira, "Terra" (1979) e "Revolta dos Palhaços" (80), Chico Mário tocava e cantava, escrevendo as próprias letras ou dividindo parcerias com Aldir Blanc, Fernando Brant e outros.
Segundo o filho, foi em um show no México, depois de entusiasmar a platéia com um choro, que Chico Mário resolveu se dedicar à música instrumental. Fez "Conversa de Cordas, Couros, Palhetas e Metais" (83), "Pijama de Seda" (85) e "Retratos" (86).
Em dezembro de 1987, já muito doente, deixou o hospital para gravar três discos: "Dança do Mar", "Suíte Brasil" e "Tempo". Voltou ao hospital e morreu em 14 de março de 1988.
"Muitas pessoas me dizem que acham as músicas dele melancólicas, tristes. Eu vejo que ele passou por várias vertentes e deixou uma obra diversificada, com composições arrebatadoras", diz Souza, lembrando que o pai ainda foi um dos pioneiros da música independente no país.
Souza também está envolvido em "3 Irmãos de Sangue", documentário de Ângela Patrícia Reiniger sobre Henfil, Betinho e Chico. O filme terá uma primeira exibição, para convidados, na quinta-feira, no cine Odeon BR, no Rio, e deverá entrar em circuito em março de 2006.


Francisco Mário - Vida e Obra
Organizador:
Marcos Souza
Editora: Sesc Rio Som
Quanto: R$ 195 (224 págs. e quatro CDs); instituições e bibliotecas podem encomendar pelo e-mail marcossouza@alternex.com.br


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