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"HI-BI - DIAS DE FOGO"
Saga de ceramista desafia tradição
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
É raro encontrar no Japão
mulheres que façam peças de
cerâmica artesanalmente em fornos a lenha. Há um tabu ancestral
contra elas.
Nos anos 60, quando essa interdição era ainda mais rígida, uma
mulher, Kiyoko Koyama, da tradicional cidade ceramista Shigaraki, resolveu desafiá-la. "Hi-Bi
-°Dias de Fogo", de Banmei Takahashi, reconstitui ficcionalmente
a saga dessa mulher.
Kiyoko (a excelente Yuko Tanaka) decide assumir o "anagama"
(forno de túnel) do marido quando este a troca por uma aprendiz
mais jovem, deixando-a com dois
filhos para criar.
Kiyoko enfrenta a corporação
dos ceramistas locais, todos eles
homens, e comanda sua própria
produção com uma idéia fixa:
reencontrar uma técnica milenar,
então perdida, de fabricação de
peças esmaltadas.
Sua primeira vitória, depois de
cumprir sua obsessão, é ser aceita
pela corporação ceramista. Em
pouco tempo, ela ganha fama nacional. Seu novo problema é o de
formar um discípulo.
Sua filha mais velha logo vai para Tóquio, em busca de uma vida
moderna. Já o filho adolescente,
Ken-Ichi, é visto por Kiyoko como um rapaz sonhador, fraco e
incapaz de aprender a arte da cerâmica -até ele ser diagnosticado como portador de leucemia.
A batalha da mãe passa a ser,
então, pela obtenção de uma medula óssea compatível com a de
Ken-Ichi, para que ele possa se
submeter a um transplante. Na
esteira dessa luta, ela acaba desenvolvendo uma campanha pela
criação de um banco de medulas
no Japão.
"Hi-Bi - Dias de Fogo", portanto, é a história dessa mulher notável lutando em três frentes diferentes: para dominar sua própria
arte, para vencer barreiras num
país conservador e para exercer
seu papel de mãe.
O filme elude tanto quanto possível o tom edificante e tem seus
melhores momentos nas belas
imagens do forno e na áspera relação entre mãe e filho. No mais, é
pura informação sobre o Japão
moderno.
Hi-Bi - Dias de Fogo
Direção: Banmei Takahashi
Quando: hoje, às 20h10, no MIS
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