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Musa "junkie" chama amigos dos anos 60
MARCELO NEGROMONTE
da Redação
Marianne Faithfull corre para atender o telefone. Fala ofegante, quase sem ar, alguns
"hello" e "yes" -todos sexy,
surpreendente e convincentemente sensuais para uma senhora prestes a completar 53
anos de idade. É uma voz rouca, profunda, densa, serena e
com três décadas de excessos
tatuados nela.
Ms. Faithfull é uma personagem marginal e marcante na
música pop. Da ninfeta angelical, sedutora e adolescente de
"As Tears Go By" à lady "décadence avec élégance" de "Vagabond Ways", Marianne viu,
sentiu e ingeriu tudo.
Leia trechos da entrevista
que ela concedeu de sua casa,
em Dublin, Irlanda do Norte.
Folha - O que você veio fazer no Brasil nos anos 60?
Marianne Faithfull - Fui
duas vezes ao Brasil nos anos
60. Uma com Mick Jagger e
meu filho Nicholas, quando ele
tinha 3 anos (em 1968). Voltamos novamente e ficamos
num sítio no interior de São
Paulo, com Mick, Nicholas e
Keith Richards. Estava em férias. Na primeira vez, fui primeiro ao Rio, passeamos, e a
cidade era fascinante naquela
época -não sei como deve estar agora- e ao mesmo tempo
estranha. Depois fomos à Bahia. E agora eu estou muito feliz, louca para voltar ao Brasil.
Folha - Você gostou daqui?
Faithfull - Amei. Não tínhamos a menor idéia do que estávamos fazendo, não tínhamos
nenhum amigo aí, não conhecíamos ninguém. Então fazíamos amigos por onde passávamos -eu sempre faço amizades com as pessoas. Agora é diferente, vou a trabalho.
Folha - O fato de ter sido
amante de Mick Jagger e ser
sempre citada por isso a incomoda? Qual a relação que vocês têm hoje?
Faithfull - Cordial. Distante e
cordial. Quanto a eu ser citada
como ex-amante de Jagger,
tento lidar com isso do modo
mais gracioso possível. Acho
que no próximo século não
precisarei mais falar sobre isso
ou drogas (risos). Está quase lá.
Não gosto de falar sobre drogas nem de Mick Jagger. Minha vida é muito mais que isso.
Folha - Você sabia que na
época que você veio ao Brasil, havia uma cantora em início de carreira, Rita Lee, que
se inspirava em você?
Faithfull - Que estranho (risos)! Tomara que ela vá ao
show.
Folha - Quando se olha no
espelho hoje o que você -
uma senhora de 52 anos lançando um disco, algo raro entre popstars- enxerga?
Faithfull - Vejo uma bela
mulher de 52 anos, que é uma
artista. Não sei. Sou Marianne
Faithfull e tenho orgulho de ser
Marianne Faithfull e de ter sido
Marianne Faithfull.
Folha - Apesar de sua voz soar
única e rouca hoje, não é a
mesma voz angelical com a
qual você ficou conhecida. Foram as drogas as responsáveis
por essa mudança?
Faithfull - Não há nada a ver
com drogas, é a vida mesmo.
Experiência de vida, tempo...
Folha - Você ainda fuma?
Faithfull - Sim, mas tenho de
parar rapidamente (tosse).
Folha - Além dos shows,
planeja fazer algo no Brasil?
Faithfull - Estamos tão excitados com esses shows que
penso em passar mais uma semana no Brasil. Será adorável,
é exatamente do que preciso,
uma pausa. Espero reencontrar meus amigos brasileiros,
dos quais nem me lembro os
nomes. Pessoas que conheci
nos 60, venham me ver.
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