São Paulo, Quarta-feira, 01 de Dezembro de 1999


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Musa "junkie" chama amigos dos anos 60

MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Marianne Faithfull corre para atender o telefone. Fala ofegante, quase sem ar, alguns "hello" e "yes" -todos sexy, surpreendente e convincentemente sensuais para uma senhora prestes a completar 53 anos de idade. É uma voz rouca, profunda, densa, serena e com três décadas de excessos tatuados nela.
Ms. Faithfull é uma personagem marginal e marcante na música pop. Da ninfeta angelical, sedutora e adolescente de "As Tears Go By" à lady "décadence avec élégance" de "Vagabond Ways", Marianne viu, sentiu e ingeriu tudo.
Leia trechos da entrevista que ela concedeu de sua casa, em Dublin, Irlanda do Norte.

Folha - O que você veio fazer no Brasil nos anos 60?
Marianne Faithfull -
Fui duas vezes ao Brasil nos anos 60. Uma com Mick Jagger e meu filho Nicholas, quando ele tinha 3 anos (em 1968). Voltamos novamente e ficamos num sítio no interior de São Paulo, com Mick, Nicholas e Keith Richards. Estava em férias. Na primeira vez, fui primeiro ao Rio, passeamos, e a cidade era fascinante naquela época -não sei como deve estar agora- e ao mesmo tempo estranha. Depois fomos à Bahia. E agora eu estou muito feliz, louca para voltar ao Brasil.

Folha - Você gostou daqui?
Faithfull -
Amei. Não tínhamos a menor idéia do que estávamos fazendo, não tínhamos nenhum amigo aí, não conhecíamos ninguém. Então fazíamos amigos por onde passávamos -eu sempre faço amizades com as pessoas. Agora é diferente, vou a trabalho.

Folha - O fato de ter sido amante de Mick Jagger e ser sempre citada por isso a incomoda? Qual a relação que vocês têm hoje?
Faithfull -
Cordial. Distante e cordial. Quanto a eu ser citada como ex-amante de Jagger, tento lidar com isso do modo mais gracioso possível. Acho que no próximo século não precisarei mais falar sobre isso ou drogas (risos). Está quase lá. Não gosto de falar sobre drogas nem de Mick Jagger. Minha vida é muito mais que isso.

Folha - Você sabia que na época que você veio ao Brasil, havia uma cantora em início de carreira, Rita Lee, que se inspirava em você?
Faithfull -
Que estranho (risos)! Tomara que ela vá ao show.

Folha - Quando se olha no espelho hoje o que você - uma senhora de 52 anos lançando um disco, algo raro entre popstars- enxerga?
Faithfull -
Vejo uma bela mulher de 52 anos, que é uma artista. Não sei. Sou Marianne Faithfull e tenho orgulho de ser Marianne Faithfull e de ter sido Marianne Faithfull.
Folha - Apesar de sua voz soar única e rouca hoje, não é a mesma voz angelical com a qual você ficou conhecida. Foram as drogas as responsáveis por essa mudança?
Faithfull - Não há nada a ver com drogas, é a vida mesmo. Experiência de vida, tempo...
Folha - Você ainda fuma?
Faithfull - Sim, mas tenho de parar rapidamente (tosse).

Folha - Além dos shows, planeja fazer algo no Brasil?
Faithfull -
Estamos tão excitados com esses shows que penso em passar mais uma semana no Brasil. Será adorável, é exatamente do que preciso, uma pausa. Espero reencontrar meus amigos brasileiros, dos quais nem me lembro os nomes. Pessoas que conheci nos 60, venham me ver.


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