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TELEVISÃO
"Te Vi na TV" fala, mas não mostra
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Pelo menos uma pretensão o
"Te Vi na TV" tem. Apresentando-se às segundas-feiras, quer recuperar uma tradição da Globo
de começar a semana rindo
-com Jô Soares, por exemplo,
muito antes de ele virar bisbilhoteiro em cinco ou seis idiomas. Só
que com João Kléber a tradição
sempre foi outra.
Ele é cômico de palco. Do tipo
que precisa apenas de uma platéia. Fica lá no alto e faz seu desfile histriônico de anedotas. No "Te
Vi na TV", João Kléber começa de
paletó e gravata, traje usado por
um comediante do gênero diante
de um público mais despretensioso. Para não deixar dúvida de
que há alguma seriedade no seu
humor, os políticos têm a prioridade. "Clinton foi criado com leite de vaca. Fernando Henrique,
com leite de magnésia." Continua
com uma história de que a polícia
está se equipando para que os ladrões tenham o que roubar. Continuaria assim até o fim se não tivesse que fornecer imagens para a
câmera.
Ao entrar com seu terninho,
João Kléber mostrava a marca de
baton na testa que uma beijoqueira bocuda mostrou. Ainda
não chegou o momento de explicar sua origem. Antes tem de
mostrar que seu programa tem
elenco. Um homem vestido de terno vermelho e outro de terno verde. Esse de verde faz graça dublando sua própria voz, com defeitos propositais de gravação para tornar engraçado o trecho do
"Barbeiro de Sevilha" que escolheu para cantar.
O humor dos outros é quase
sempre musical. O Karnak, um
conjunto de visual mais inventivo, mostra também que é bem capaz de alguma surpresa. Porque o
beijo que o baton deixou na testa
é só pretexto para uma pegadinha de ritmo muito mais lento do
que as que o Faustão colocou na
moda, sempre explicando a origem na "Candid Camera" dos
primórdios americanos da televisão. Aqui, o elixir servido e muito
consumido é urina fornecida pelos monges do Tibete. A platéia ri
porque sua eterna função na televisão é esquentar o humor.
Televisão tem de mostrar muito
mais do que falar. João Kléber faz
tipos com um jogador sarará (Romário poderia reclamar) que se
recusa a treinar. Explicando por
quê, duas moças de short e sutiã,
com duas bolas de futebol fazendo o suporte, acompanham o craque preguiçoso apenas no esporte.
De peruca e cavanhaque, João
Kléber vira caricato necessariamente político que não pode ouvir alguém falar em CPI e precisa
jurar que jamais conheceu algum
Faria. Essa mania da nova Rede
TV! de esticar a duração de seus
programas só faz autorizar o óbvio.
Mas -surpresa!- o programa
vai acabar antes do tempo, e João
Kléber reassume sua melhor função de cômico "stand up". Imita o
Brizola (não esqueceu?) e brinca
com o Covas. Já que é o "grande
final", que o Karnak cante "Comendo Uva na Chuva" enquanto
quiser. Alívio é sempre o melhor
aplauso.
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