São Paulo, Quarta-feira, 01 de Dezembro de 1999


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TELEVISÃO
"Te Vi na TV" fala, mas não mostra

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Pelo menos uma pretensão o "Te Vi na TV" tem. Apresentando-se às segundas-feiras, quer recuperar uma tradição da Globo de começar a semana rindo -com Jô Soares, por exemplo, muito antes de ele virar bisbilhoteiro em cinco ou seis idiomas. Só que com João Kléber a tradição sempre foi outra.
Ele é cômico de palco. Do tipo que precisa apenas de uma platéia. Fica lá no alto e faz seu desfile histriônico de anedotas. No "Te Vi na TV", João Kléber começa de paletó e gravata, traje usado por um comediante do gênero diante de um público mais despretensioso. Para não deixar dúvida de que há alguma seriedade no seu humor, os políticos têm a prioridade. "Clinton foi criado com leite de vaca. Fernando Henrique, com leite de magnésia." Continua com uma história de que a polícia está se equipando para que os ladrões tenham o que roubar. Continuaria assim até o fim se não tivesse que fornecer imagens para a câmera.
Ao entrar com seu terninho, João Kléber mostrava a marca de baton na testa que uma beijoqueira bocuda mostrou. Ainda não chegou o momento de explicar sua origem. Antes tem de mostrar que seu programa tem elenco. Um homem vestido de terno vermelho e outro de terno verde. Esse de verde faz graça dublando sua própria voz, com defeitos propositais de gravação para tornar engraçado o trecho do "Barbeiro de Sevilha" que escolheu para cantar.
O humor dos outros é quase sempre musical. O Karnak, um conjunto de visual mais inventivo, mostra também que é bem capaz de alguma surpresa. Porque o beijo que o baton deixou na testa é só pretexto para uma pegadinha de ritmo muito mais lento do que as que o Faustão colocou na moda, sempre explicando a origem na "Candid Camera" dos primórdios americanos da televisão. Aqui, o elixir servido e muito consumido é urina fornecida pelos monges do Tibete. A platéia ri porque sua eterna função na televisão é esquentar o humor.
Televisão tem de mostrar muito mais do que falar. João Kléber faz tipos com um jogador sarará (Romário poderia reclamar) que se recusa a treinar. Explicando por quê, duas moças de short e sutiã, com duas bolas de futebol fazendo o suporte, acompanham o craque preguiçoso apenas no esporte.
De peruca e cavanhaque, João Kléber vira caricato necessariamente político que não pode ouvir alguém falar em CPI e precisa jurar que jamais conheceu algum Faria. Essa mania da nova Rede TV! de esticar a duração de seus programas só faz autorizar o óbvio.
Mas -surpresa!- o programa vai acabar antes do tempo, e João Kléber reassume sua melhor função de cômico "stand up". Imita o Brizola (não esqueceu?) e brinca com o Covas. Já que é o "grande final", que o Karnak cante "Comendo Uva na Chuva" enquanto quiser. Alívio é sempre o melhor aplauso.


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