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"ESPERANDO BECKETT"
Nova peça de Gerald Thomas traz um diretor menos hermético
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
"Esperando Beckett", a
mais recente produção de
Gerald Thomas, em cartaz no Rio,
é um Gerald diferente. Mais acessível (nenhuma palavra em alemão!), com uma estrutura quase
linear, o espetáculo se aproxima
do espectador de maneira eficaz.
Será uma influência da neo-atriz Marília Gabriela, mestre da
comunicação eficaz da televisão?
Possivelmente. O espetáculo, dividido em três momentos, tem
início com uma representação nada realista de Marília, por ela mesma, num estúdio de televisão, à
espera de Beckett para a gravação
de um programa. É uma fase deliciosamente interessante.
Todos os textos são previamente gravados, e a ação dos atores da
Cia. da Ópera Seca e da própria
Gabi são de uma encenação caricatural, um deboche aos bastidores televisivos. É também uma
forma brilhante de mostrar que
teatro é representação. Futilidades que envolvem os momentos
anteriores de uma gravação são
desvendados de maneira hilária,
realidade e ficção se misturam.
Esse primeiro momento cria
também uma tensão: será que Gabi irá ficar o tempo todo dublando? É aí que os equipamentos entram em pane, os funcionários
saem, e ela fica cara a cara com o
público, sozinha, interpretando. E
faz bem. Finalmente Beckett aparece para o diálogo, numa cena
misteriosa, nebulosa, e então desaparece. Eis o gancho para os delírios da personagem de Marília.
É visível que ela segue à risca as
marcações do diretor, às vezes
nervosa até. Mas seus melhores
momentos acontecem quando ela
sai de trás da mesa (onde estava
desde o início da peça). Aí a representação ganha pela ousadia.
Essa parte, a homenagem a Beckett a partir da peça "Malone
Morre", tem um ótimo aproveitamento da atriz. Especialmente
porque a estrutura do espetáculo
é favorável a Marília. As frases
desconexas, referências a uma filosofia do cotidiano, típicas do
autor irlandês, soam naturais na
atriz, que não precisa usar dos recursos clássicos do teatro, mas se
entrega às propostas do diretor.
Gerald continua um construtor
de belas imagens, só que desta vez
menos hermético. Parece haver
mais vontade de comunicação,
busca de maior leveza, o que já vinha ocorrendo sutilmente nas últimas montagens, e agora encontrou o momento correto.
Esperando Beckett
Concepção e direção: Gerald Thomas
Com: Marília Gabriela e Cia. da Ópera
Seca
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h
Onde: Sesc Copacabana (r. Domingos
Ferreira, 160, tel. 0/xx/21/547-0156)
Quanto: R$ 20
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