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DA RUA
Sobre a beleza
FERNANDO BONASSI
Nessas noites de sexta, o
PS de Gabriel faz a alegria e a
tristeza de centenas de pessoas. Crianças engasgadas,
esposas esfaqueadas, jovens
com ferros atravessados entre as pernas, vírus e bactérias de todo tipo. Gabriel se
diz enfermeiro, mas dispõe
de um salário de R$ 220, rodo, pano, balde e detergente
de amoníaco, que incomoda
os asmáticos. Como sempre,
aguarda os médicos desistirem de um paciente, para então limpar o sangue do chão
e ajeitar-lhe as roupas reviradas. Sem que o vejam, utiliza
seu estojo de maquiagem.
Nos mortos mais assustados,
aplica base, rímel e batom.
Não se trata de profanação
ou perversidade. Gabriel
apenas sente que, diante de
cadáveres bonitos, os parentes podem chorar com mais
verdade.
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