São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2001

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DA RUA

Sobre a beleza

FERNANDO BONASSI

Nessas noites de sexta, o PS de Gabriel faz a alegria e a tristeza de centenas de pessoas. Crianças engasgadas, esposas esfaqueadas, jovens com ferros atravessados entre as pernas, vírus e bactérias de todo tipo. Gabriel se diz enfermeiro, mas dispõe de um salário de R$ 220, rodo, pano, balde e detergente de amoníaco, que incomoda os asmáticos. Como sempre, aguarda os médicos desistirem de um paciente, para então limpar o sangue do chão e ajeitar-lhe as roupas reviradas. Sem que o vejam, utiliza seu estojo de maquiagem. Nos mortos mais assustados, aplica base, rímel e batom. Não se trata de profanação ou perversidade. Gabriel apenas sente que, diante de cadáveres bonitos, os parentes podem chorar com mais verdade.


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