São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em "Jesus", conflito gira em torno de Maria

Filme teve estréia no Vaticano, mas atriz de 16 anos que está grávida não foi

Lançamento mundial de fim de ano conta a trajetória de Maria e José entre a descoberta da gravidez e o nascimento de Cristo


TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM WASHINGTON

Tudo estava programado para que o filme chegasse aos cinemas do mundo todo hoje sem nenhum atrito. A pré-estréia mundial aconteceu no último domingo, no Vaticano, com a presença de 7.000 fiéis e as maiores autoridades da Igreja Católica, menos o papa Bento 16, que não foi à sessão aberta do filme, mas provavelmente já tinha dado o seu ok sagrado.
Um desconforto, no entanto, acompanha toda essa operação: há dois meses, noticiou-se que a atriz Keisha Castle-Hughes, indicada ao Oscar pelo seu primeiro filme, "A Encantadora de Baleias", em 2003, estava grávida aos 16 anos. É ela a intérprete de Maria no filme.
Curiosamente, seu nome não estava na lista das celebridades confirmadas para a pré-estréia no Vaticano. "Ela não poderá ir porque tem conflito de agenda, já está em outro filme, e, por causa da gravidez, precisa fazer suas cenas antes que a barriga fique muito evidente", contou a diretora Catherine Hardwicke, pelo telefone, à Folha, antes da sessão no Vaticano.
Ela tem 51 anos, cara de surfista e fala como uma adolescente que não tem certeza absoluta do que diz. Parece ter mais a ver com as personagens de seus dois primeiros filmes, "Aos Treze" e "Os Reis de Dogtown", do que com tipos religiosos. Mas Catherine Hardwicke diz que há muitas semelhanças entre a história do nascimento de Cristo e os personagens de seus longas anteriores. "Maria tinha apenas 13 ou 14 anos quando ficou grávida. Comecei a pensar o que aconteceria com Nikki (Reed, autora do roteiro de "Aos Treze") ou Evan (Rachel Woods, protagonista do mesmo filme) se elas fossem obrigadas a se casar com um homem que mal conheciam e carregar o filho de Deus", contou a diretora.
Sobre a gravidez de sua protagonista, disse que se surpreendeu com a notícia mas que entendeu a escolha da atriz. "Keisha sofreu muito pensando no que iriam dizer sobre ela, mas decidiu levar a gravidez adiante. Sua mãe também acabou de ter um bebê, e as duas vão criar seus filhos juntas". Questionada se acredita que foi inspirada pela história de Maria que a atriz decidiu ter o filho, Catherine nega: "Ela tem um namorado firme há dois anos, acho que ele tem mais a ver com isso do que o seu trabalho no filme".
"Jesus - A História do Nascimento" é baseado nos livros de Mateus e Lucas, da Bíblia. Com algumas "liberdades": "O que é uma frase na Bíblia virou uma cena no filme, e com isso acredito que o papel de José tenha ficado maior", diz a diretora, que também optou por contrariar a crença popular de que o parto de Maria teria acontecido sem dores. "Não tem nada disso na Bíblia. Acho que é o que as pessoas gostariam de acreditar", completa ela.

Sem polêmica
Catherine não acredita que seu filme provocará o mesmo tipo de polêmica que o blockbuster "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson, provocou em 2004. Mas ela elogia o colega e usou em seu filme algumas das mesmas locações e o mesmo figurinista, o italiano Maurizio Millenotti. "Maurizio é um dos melhores figurinistas em atividade, e, sobre as locações, o diretor [Píer Paolo] Pasolini também as usou em 1964 em "O Evangelho Segundo Mateus". Jerusalém, Belém e Nazaré estão muito modernizadas hoje em dia", defende-se.
Catherine nasceu em McAllen, no Texas, em 1955, perto da fronteira com o México. Seus pais são presbiterianos e ela passou a infância e a adolescência indo à Igreja todos os domingos. "Por causa da influência dos mexicanos na minha cidade, conheci e comecei cedo a fazer presépios no Natal", contou ela, que, não por acaso, começou a trabalhar no cinema como produtora de arte, em 1986, e só estreou como diretora em 2003.
Para garantir a autenticidade da história, o time de Catherine recriou Nazaré na cidade de Matera, no sul da Itália, e preparou os figurinos um mês antes do começo das filmagens. Nesse tempo, seu elenco morou na cidadezinha e os atores passaram os dias com as roupas do filme para que soubessem "andar pelas pedras com aquelas sandálias de couro, sentissem o cheiro das oliveiras e o peso das roupas".


Texto Anterior: Crítica/"Feliz Natal": Drama natalino sobre a guerra se perde com mensagem simplista e utópica
Próximo Texto: Crítica/"Jesus - A História do Nascimento": Com excesso de música, filme lembra os antigos e ortodoxos épicos religiosos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.