São Paulo, terça, 1 de dezembro de 1998

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O Último Tango em Paris

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Fora de catálogo há quase duas décadas, a trilha sonora de um dos filmes mais polêmicos de todos os tempos está de volta às lojas. "O Último Tango em Paris" é destaque do primeiro pacote de trilhas do selo ST2, que inclui "Frank Zappa's 200 Motels" e "Octopussy" (leia texto abaixo).
Lançado em 1972, o filme de Bernardo Bertolucci mofou por quatro anos nas gavetas da censura brasileira, antes de ser liberado para exibição. O motivo: as tórridas cenas de sexo vividas por Marlon Brando e Maria Schneider.
Mais até do que o filme, a trilha composta e interpretada pelo saxofonista argentino Gato Barbieri virou "cult". Muita gente furou os velhos LPs de vinil, lançados aqui pela Copacabana, em 1973.
A esperada edição em CD, assinada pelo selo Ryko (e reproduzida fielmente na versão nacional), merece aplausos. Além de trazer um encarte com fotos e informações consistentes, oferece 27 minutos a mais de música.
Na verdade, foram estas faixas adicionais (29 ao todo; várias não passam de pequenas vinhetas, com menos de um minuto de duração) que coloriram as cenas do filme. As 11 gravações do LP eram apenas variações mais extensas de temas da trilha original.
A trágica história do filme parece ser inspirada em algum obscuro tango argentino. Porém, em vez de usar a música para reforçar as passagens mais dramáticas, Barbieri criou uma trilha em moldes quase clássicos, que pode ser ouvida como música autônoma.
Os temas -baseados em padrões melódicos, rítmicos ou mesmo na instrumentação típica do tango- são recriados sob outras formas, como a balada e a valsa-jazz. Talvez seja essa a razão de a trilha ter resistido tão bem à ação do tempo: belas melodias estruturadas em um padrão clássico.
O texto do encarte acerta ao mencionar o trabalho do jazzista Oliver Nelson (não creditado na primeira edição). São dele os eficientes e sensíveis arranjos orquestrais que emolduram os improvisos do sax de Barbieri. Nelson dá uma aula de orquestração, insinuando diferentes climas.
Em duas das vinhetas, curiosamente, pode-se ouvir o berimbau do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, que já tinha se radicado na Europa, para tocar na banda de Barbieri.
Premiado com um Grammy, "Last Tango in Paris" foi o maior sucesso da carreira de Barbieri, que desenvolvera uma carreira jazzística, nos anos 60, ao lado de vanguardistas como Don Cherry, Carla Bley e Charlie Haden.
A enorme repercussão da trilha acabou definindo a trajetória do argentino. Seu álbum "Caliente" (1975) abriu uma série de trabalhos mais comerciais, voltados para um pop latino e romântico.
Em 1995, após a morte de sua mulher, Barbieri chegou a sofrer um ataque cardíaco, mas se recuperou. Com o CD "Qué Pasa" (lançado há um ano, nos EUA), o Gato parece decidido a iniciar sua segunda vida.
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Trilha: Last Tango in Paris Artista: Gato Barbieri Lançamento: Ryko/ST2 Quanto: R$ 18 (em média)



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