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O Último Tango em Paris
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Fora de catálogo há quase duas
décadas, a trilha sonora de um dos
filmes mais polêmicos de todos os
tempos está de volta às lojas. "O
Último Tango em Paris" é destaque do primeiro pacote de trilhas
do selo ST2, que inclui "Frank Zappa's 200 Motels" e "Octopussy"
(leia texto abaixo).
Lançado em 1972, o filme de Bernardo Bertolucci mofou por quatro anos nas gavetas da censura
brasileira, antes de ser liberado para exibição. O motivo: as tórridas
cenas de sexo vividas por Marlon
Brando e Maria Schneider.
Mais até do que o filme, a trilha
composta e interpretada pelo saxofonista argentino Gato Barbieri
virou "cult". Muita gente furou os
velhos LPs de vinil, lançados aqui
pela Copacabana, em 1973.
A esperada edição em CD, assinada pelo selo Ryko (e reproduzida fielmente na versão nacional),
merece aplausos. Além de trazer
um encarte com fotos e informações consistentes, oferece 27 minutos a mais de música.
Na verdade, foram estas faixas
adicionais (29 ao todo; várias não
passam de pequenas vinhetas, com
menos de um minuto de duração)
que coloriram as cenas do filme.
As 11 gravações do LP eram apenas
variações mais extensas de temas
da trilha original.
A trágica história do filme parece
ser inspirada em algum obscuro
tango argentino. Porém, em vez de
usar a música para reforçar as passagens mais dramáticas, Barbieri
criou uma trilha em moldes quase
clássicos, que pode ser ouvida como música autônoma.
Os temas -baseados em padrões melódicos, rítmicos ou mesmo na instrumentação típica do
tango- são recriados sob outras
formas, como a balada e a valsa-jazz. Talvez seja essa a razão de a
trilha ter resistido tão bem à ação
do tempo: belas melodias estruturadas em um padrão clássico.
O texto do encarte acerta ao
mencionar o trabalho do jazzista
Oliver Nelson (não creditado na
primeira edição). São dele os eficientes e sensíveis arranjos orquestrais que emolduram os improvisos do sax de Barbieri. Nelson dá uma aula de orquestração,
insinuando diferentes climas.
Em duas das vinhetas, curiosamente, pode-se ouvir o berimbau
do percussionista pernambucano
Naná Vasconcelos, que já tinha se
radicado na Europa, para tocar na
banda de Barbieri.
Premiado com um Grammy,
"Last Tango in Paris" foi o maior
sucesso da carreira de Barbieri,
que desenvolvera uma carreira jazzística, nos anos 60, ao lado de vanguardistas como Don Cherry, Carla Bley e Charlie Haden.
A enorme repercussão da trilha
acabou definindo a trajetória do
argentino. Seu álbum "Caliente"
(1975) abriu uma série de trabalhos mais comerciais, voltados para um pop latino e romântico.
Em 1995, após a morte de sua
mulher, Barbieri chegou a sofrer
um ataque cardíaco, mas se recuperou. Com o CD "Qué Pasa" (lançado há um ano, nos EUA), o Gato
parece decidido a iniciar sua segunda vida.
²
Trilha: Last Tango in Paris
Artista: Gato Barbieri
Lançamento: Ryko/ST2
Quanto: R$ 18 (em média)
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