São Paulo, quinta-feira, 02 de fevereiro de 2006

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A soberana do hip hop

Lady Sovereign, 19, é o novo hype do gênero nos Estados Unidos; branca e inglesa, a cantora bombou pela internet

TEREZA NOVAES
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma soberana desponta na milionária (e misógina) corte do hip hop americano. A inglesa Lady Sovereign, 19, é a primeira MC (mestre-de-cerimônia ou cantora) branca a assinar com uma grande gravadora, a Island Universal. Seu disco de estréia está em produção nos EUA, com o aval de Jay-Z e LA Reid -dois poderosos nomes da indústria do rap.
Como uma garota que não tem sequer um disco completo lançado, e que vem de um país com pouca tradição no hip hop, se torna uma sensação? Graças, principalmente, à internet -a exemplo do que aconteceu com a anglo-singalesa M.I.A.
Mas Lady Sovereign (no diminutivo, Lady Sov) é de outra turma, a do grime. O estilo surgido em Londres combina vocais rápidos sobre bases de hip hop e drum'n'bass -o gênero eletrônico cujas batidas predominantes são a bateria e o baixo. O primeiro hype da geração grime é Dizzee Rascal, que tocou no Rio em 2005.
A vertente conquistou as pistas no mundo via rádios piratas e blogs (veja texto nesta página).
Num meio em que a maioria é homem e negra, o potencial de Lady Sovereign -jovem, branca, cheia de atitude e talentosa- foi rapidamente percebido pela indústria fonográfica e pela mídia.
Aos fatos: seu uniforme é um agasalho Adidas customizado, com uma pequena coroa no lugar da tradicional insígnia -uma de suas músicas se chama "Adidas Hoodie" (casaco); há adesivos promocionais com o seu nome colados pelos bairros descolados de Nova York; e revistas como "I-d" e "Urb" a estamparam na capa.
Comparada ao americano Eminem, pela atitude "outsider" e, claro, por ser branca, ela refuta ser a versão de saias do cantor. Os críticos a apelidaram de "Feminem".
Assim como o polêmico rapper, Lady Sovereign -seu nome na identidade é Louise Harman-, teve uma infância que, segundo a própria, inclui muitas histórias tristes (quem não as têm no rap?).
Os pais eram punks e viviam às turras; ela deixou a escola aos 16; foi presa aos 17; e saiu de casa definitivamente aos 18.

Ladra
"A última vez que estive na prisão tinha 17. Fiquei jogada numa cela por nove horas. Eu era uma ladra. Não podia comprar nada, não tinha roupas nem presentes de Natal. Tinha que pegar desse jeito", declarou à "Urb".
O nome artístico, que significa senhora soberana, ganhou depois de ter roubado um anel com o desenho de uma coroa. "Não roubo mais, mas isso foi um modo de vida para mim durante dois anos."
Da passagem das ruas para a fama, ela coleciona outros causos. No ano passado, depois de sua primeira apresentação em Nova York, na casa de shows Knitting Factory, Lady Sov declarou que gostaria muito de ter pulado durante a performance, mas não pôde. "Se tivesse feito isso, as pessoas que estavam na frente ficariam cobertas de vômito." A culpa, disse ela, teria sido de um cheeseburger do McDonald's.
Apesar da fama de louca, muita gente põe fé na menina. A faixa "Blah Blah", que já circula na internet, sairá num EP remixada pelos ingleses do Basement Jaxx.
Seu álbum de estréia, "Public Warning" -prometido para março-, tem participações de superprodutores como Timbaland e da dupla The Neptunes, que assina os hits "I'm a Slave 4 U", de Britney Spears, e "On and On", de Missy Elliot.
Enquanto o disco não é lançado -não há ainda previsão para o Brasil-, é possível ouvir o som de Lady Sov na internet ou num dos três EPs que já saíram lá fora.
O reinado da inglesinha caminha bem, mas há pouco, ela passou por um hospital. Diagnóstico: síndrome de pânico. A coroa começa a pesar?


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