São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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TRECHO

Estou no quarto de minha mãe. Sou eu que moro lá agora. Não sei como cheguei lá. Numa ambulância talvez, num veículo qualquer certamente. Me ajudaram.
Sozinho não teria chegado. Esse homem que vem toda semana, é talvez graças a ele que estou aqui. Ele diz que não. Me dá dinheiro e leva as folhas. Tantas folhas, tanto dinheiro. Sim, trabalho agora, um pouco como antigamente, só que não sei mais trabalhar.
Isto não tem importância, ao que parece. Eu, eu gostaria agora de falar das coisas que me restam, me despedir, terminar de morrer. Eles não querem. Sim, eles são muitos, ao que parece. Mas é sempre o mesmo que vem. Fará isso mais tarde, ele diz. Bom. Não tenho mais muita vontade, vejam bem.

Extraído de "Molloy", de Samuel Beckett

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