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Livrarias e editoras argentinas enfrentam queda nas vendas
FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES
Espalhar pelas vitrines capas
com a promessa de receita para o
sucesso ou a assinatura de escritores consagrados não foi suficiente. As livrarias e editoras argentinas se preparam para encarar um
dos piores anos que o setor já enfrentou. O resultado das primeiras semanas deste ano é desalentador. A queda nas vendas de livros já chega a 45%.
A estagnação do mercado editorial veio com o agravamento da
crise econômica que consome o
país há 44 meses. Muitas livrarias
não conseguiram sobreviver e outras tantas correm o risco de ter de
fechar suas portas. Entre 2000 e
2001, pelo menos 250 delas deixaram de existir no país, segundo
dados da Capla (a câmara que
reúne as livrarias na Argentina).
Restam atualmente no país cerca
de 700 livrarias.
Se trabalhar com livros na Argentina vinha se tornando uma
atividade menos lucrativa mês a
mês, a desvalorização do peso (a
moeda do país) no início deste
ano foi o golpe final que o setor temia. O preço dos livros importados duplicou em menos de dois
meses. Isso levou as livrarias a terem de redesenhar suas estratégias. Grande quantidade de livros
dos catálogos que manejam é importada. Apenas dos títulos oferecidos em espanhol, em média
40% eram até o momento importados, principalmente da Espanha e do México.
"Optamos por vender sem lucro
ou mesmo com prejuízo e esperar
que a crise se atenue. As vendas já
despencaram 60% nas últimas semanas. Se aumentarmos os preços, ninguém vai comprar mais
nada", afirma Marcela Guette, gerente de comércio exterior da livraria Distal, uma da maiores de
Buenos Aires.
O registro de livros, inéditos ou
reedições, para publicação no
país tem caído nos últimos dois
anos. A estimativa é de que neste
ano essa cifra recue para o nível
mais baixo desde 95. Em 2001, foram pouco mais de 12 mil títulos
registrados para publicação, cerca
de 2.000 a menos que em 99.
A Feira do Livro, que será em
Buenos Aires entre 18 de abril e 6
de maio, também reflete os difíceis dias que o setor enfrenta. De
convidados estrangeiros, virão
apenas três. Em 2001, 15 estrangeiros estiveram no evento.
"As editoras não retiraram suas
reservas de espaço na feira na esperança de conquistarem, com
preços especiais e descontos, um
público que normalmente não
compra livros. Essa expectativa
ajudou a manter o evento deste
ano em pé", afirma Marta Dias,
diretora da Feira do Livro.
Com poucas esperanças de que
a crise econômica se abrande em
pouco tempo, muitas editoras já
avisaram que diminuirão pela
metade a publicação e distribuição de obras neste ano.
Mudar para sobreviver
Se as grandes redes têm sofrido
com a crise, a situação das pequenas livrarias é ainda pior. A opção
encontrada por muitas delas é a
de passar a trabalhar também
com livros usados. Sem se transformarem propriamente em um
sebo, tem sido comum ver no
centro de Buenos Aires estantes
de livros usados passarem a conviver com as de novos.
"Tive de cortar convênio com
várias editoras. Montar uma seção de usados foi a alternativa que
encontrei para não ficar com espaços vazios na loja e atrair um
público novo", conta Adolfo Favio, proprietário de uma pequena
livraria há mais de duas décadas.
Cada vez mais caro
Até o fim do ano passado, o dólar e o peso tinham o mesmo valor
na Argentina. Mas o fim da lei de
conversibilidade -que atrelou
durante uma década o valor das
duas moedas- neste ano fez o
dólar mais que dobrar de preço
diante do peso. Em dezembro, para comprar um livro que custava
US$ 20, eram necessários 20 pesos. Hoje, US$ 1 vale cerca de 2,20
pesos. Com isso, quem for comprar o mesmo livro hoje tem de
desembolsar 44 pesos.
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