São Paulo, sábado, 02 de março de 2002

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Livrarias e editoras argentinas enfrentam queda nas vendas

FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

Espalhar pelas vitrines capas com a promessa de receita para o sucesso ou a assinatura de escritores consagrados não foi suficiente. As livrarias e editoras argentinas se preparam para encarar um dos piores anos que o setor já enfrentou. O resultado das primeiras semanas deste ano é desalentador. A queda nas vendas de livros já chega a 45%.
A estagnação do mercado editorial veio com o agravamento da crise econômica que consome o país há 44 meses. Muitas livrarias não conseguiram sobreviver e outras tantas correm o risco de ter de fechar suas portas. Entre 2000 e 2001, pelo menos 250 delas deixaram de existir no país, segundo dados da Capla (a câmara que reúne as livrarias na Argentina). Restam atualmente no país cerca de 700 livrarias.
Se trabalhar com livros na Argentina vinha se tornando uma atividade menos lucrativa mês a mês, a desvalorização do peso (a moeda do país) no início deste ano foi o golpe final que o setor temia. O preço dos livros importados duplicou em menos de dois meses. Isso levou as livrarias a terem de redesenhar suas estratégias. Grande quantidade de livros dos catálogos que manejam é importada. Apenas dos títulos oferecidos em espanhol, em média 40% eram até o momento importados, principalmente da Espanha e do México.
"Optamos por vender sem lucro ou mesmo com prejuízo e esperar que a crise se atenue. As vendas já despencaram 60% nas últimas semanas. Se aumentarmos os preços, ninguém vai comprar mais nada", afirma Marcela Guette, gerente de comércio exterior da livraria Distal, uma da maiores de Buenos Aires.
O registro de livros, inéditos ou reedições, para publicação no país tem caído nos últimos dois anos. A estimativa é de que neste ano essa cifra recue para o nível mais baixo desde 95. Em 2001, foram pouco mais de 12 mil títulos registrados para publicação, cerca de 2.000 a menos que em 99.
A Feira do Livro, que será em Buenos Aires entre 18 de abril e 6 de maio, também reflete os difíceis dias que o setor enfrenta. De convidados estrangeiros, virão apenas três. Em 2001, 15 estrangeiros estiveram no evento.
"As editoras não retiraram suas reservas de espaço na feira na esperança de conquistarem, com preços especiais e descontos, um público que normalmente não compra livros. Essa expectativa ajudou a manter o evento deste ano em pé", afirma Marta Dias, diretora da Feira do Livro.
Com poucas esperanças de que a crise econômica se abrande em pouco tempo, muitas editoras já avisaram que diminuirão pela metade a publicação e distribuição de obras neste ano.

Mudar para sobreviver
Se as grandes redes têm sofrido com a crise, a situação das pequenas livrarias é ainda pior. A opção encontrada por muitas delas é a de passar a trabalhar também com livros usados. Sem se transformarem propriamente em um sebo, tem sido comum ver no centro de Buenos Aires estantes de livros usados passarem a conviver com as de novos.
"Tive de cortar convênio com várias editoras. Montar uma seção de usados foi a alternativa que encontrei para não ficar com espaços vazios na loja e atrair um público novo", conta Adolfo Favio, proprietário de uma pequena livraria há mais de duas décadas.

Cada vez mais caro
Até o fim do ano passado, o dólar e o peso tinham o mesmo valor na Argentina. Mas o fim da lei de conversibilidade -que atrelou durante uma década o valor das duas moedas- neste ano fez o dólar mais que dobrar de preço diante do peso. Em dezembro, para comprar um livro que custava US$ 20, eram necessários 20 pesos. Hoje, US$ 1 vale cerca de 2,20 pesos. Com isso, quem for comprar o mesmo livro hoje tem de desembolsar 44 pesos.



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