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PORNOGRAFIA
Um dos diretores mais conhecidos no gênero, norte-americano esteve no Brasil à procura de novas atrizes
John Stagliano quer ``cinema-verdade''
LUIZ ANTONIO DEL TEDESCO
especial para a Folha
Cinema pornô também se faz
com uma câmera na mão e uma
idéia na cabeça. "Uma forte idéia
na cabeça", segundo o diretor
americano John Stagliano, 45.
Stagliano esteve no Brasil esta semana para divulgar seu trabalho
pelo interior do Estado de São
Paulo e buscar possíveis novas
atrizes para seus filmes.
Ex-dançarino profissional e
ex-stripper, Stagliano faz filmes
pornôs desde 1982. Estudou teatro
em Hollywood e dança moderna
na Universidade da Califórnia.
É hoje um dos mais conhecidos
diretores pornôs. Nas locadoras
especializadas de São Paulo, seus
vídeos são os mais retirados e chegam a atingir 40% do movimento.
Em um país onde o fetiche masculino está centrado no quadrante
superior-dianteiro da anatomia da
mulher, o diretor inovou ao direcionar seu zoom para as nádegas.
Foi, segundo ele, o primeiro a dar
ênfase "não ao sexo anal, mas à
bunda em si. Fiquei milionário por
causa disso". Stagliano gasta entre
US$ 8 mil e US$ 10 mil para realizar
cada vídeo. Lucra por volta de 30
vezes o valor investido.
Ele criou o que ele mesmo denominou de "estilo cinema-verdade" no mundo do pornô. Os olhos
de Stagliano são os olhos do espectador e também os olhos de seu alter-ego, Buttman (o personagem
louco por nádegas). É o cinema-voyeur. Stagliano é o cameraman/personagem. Em sua passagem por São Paulo, ele falou à Folha. Leia trechos da entrevista:
Folha- Cinema pornô faz parte
da sétima arte?
John Stagliano - Filmes pornôs
e filmes tradicionais são a mesma
coisa. São entretenimento. Pegue
"Máquina Mortífera 3", por
exemplo. No início há cenas de
ação, depois alguns diálogos, depois mais ação, depois mais diálogos. No cinema pornô também é
assim. Você tem diálogos e depois
sexo, diálogos e sexo...
Folha - O sr. assistiu a "O Povo
contra Larry Flynt"?
Stagliano - Ainda não. Eu não
gosto de Larry Flynt e odeio a revista "Hustler". Aquele humor é
um insulto à minha inteligência.
As piadas são grotescas, de baixo
nível e muitas vezes preconceituosas. Eu o respeito por lutar pela liberdade de expressão, mas para
mim pornografia é muito mais artístico que aquilo.
Sei que no filme Flynt é retratado
como uma pessoa que não é legal.
Se em um filme as pessoas não são
agradáveis de se ver e se não me
importo com elas, não há motivação para vê-lo.
Folha - O sr. já sofreu algum tipo
de preconceito?
Stagliano - Às vezes, sinto que
as pessoas têm certa dificuldade
em aceitar o que faço. Há algum
tempo reencontrei uma professora com quem tinha aulas de dança
e contei-lhe o que fazia. Ela se assustou e me pareceu desapontada.
Aqui vejo que há maior aceitação
do pornô. O Brasil é um país único.
Vocês têm um forte valor religioso, mas também apelo sensual.
Folha - É fácil dirigir um filme
pornô?
Stagliano - Filmes pornôs são
muito difíceis de se dirigir. Além
de o relacionamento ser muito
pessoal, você precisa aliar uma boa
performance do ator com uma
certa dose de naturalidade.
Um dos grandes problemas é que
os atores são escolhidos pelos seus
atributos físicos.
Folha - Nos anos 60, Glauber Rocha, um dos maiores cineastas brasileiros, disse que cinema é "uma
câmera na mão e uma idéia na cabeça". O seu cinema é assim?
Stagliano - Concordo totalmente. Meu cinema, em parte, é
assim. É preciso ter uma idéia muito forte na cabeça, saber como
olhar através da câmera e entender
isso tudo.
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