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JOÃO PEREIRA COUTINHO
O livro contra Deus
Pergunta fatal: se Deus foi criado à nossa imagem e semelhança, não estaríamos bem melhores sem Ele?
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CHRISTOPHER HITCHENS está
de volta com um pequeno livro contra Deus. O título não
engana: "God Is Not Great: The Case
Against Religion" (Deus não é grande: tese contra a religião). O conteúdo também não. Claro que Hitchens
não é completamente hostil em matéria religiosa. Numa conversa com
a revista "New York", é o próprio
quem confessa certo carinho por algumas passagens da Bíblia. O milagre da transformação da água em vinho é uma delas. E, para espanto dos
leitores, Hitchens acrescenta que já
falou com o Altíssimo em momento
de prece. Para lhe pedir uma ereção.
A ereção não veio. O ateísmo de Hitchens saiu reforçado.
Mas, no geral, Deus não é de confiança porque o terrorismo islâmico
é a prova final. Aliás, não apenas o
terrorismo islâmico e todos os que
matam em nome do profeta.
O argumento do autor é válido para qualquer crença estabelecida:
uma superstição infantil que, historicamente falando, foi sempre um
convite à violência. Pergunta fatal:
se Deus foi criado à nossa imagem e
semelhança, não estaríamos bem
melhores sem Ele?
Entendo a pergunta de Hitchens.
Pena que ela não seja original. Há
pelo menos 200 anos que os homens
modernos fazem perguntas semelhantes e, em certos casos, passaram
diretamente da teoria à prática. Em
1789, os revolucionários franceses
não se limitaram a abolir o "Ancien
Régime" e, com ele, o papel do clero
como força social. Aboliram e combateram a própria possibilidade de
crença num Deus transcendente.
Infelizmente, a violência do golpe
não enterrou o divino; apenas levou
os homens para o culto de um deus
imanente: a Revolução, a Nação, a
República. E, em termos caricaturais, o ser supremo que Robespierre
inventou, com seus ritos e dogmas.
Robespierre entendeu que o fim da
religião tradicional não eliminava a
necessidade de crença dos seres humanos. Apenas exigia que essa necessidade fosse arregimentada por
uma nova "religião cívica" de forma
a justificar, e por vezes a exigir, os sacrifícios do terror e da virtude.
O episódio foi apenas o primeiro
de uma longa sucessão de "religiões
seculares" (a expressão famosa de
Raymond Aron) que se apresentaram aos homens como substitutas
das religiões tradicionais. Como o
comunismo e o nazismo, por exemplo: ideologias atéias que, na realidade, se limitaram a substituir o reino
de Deus pelo reino do proletariado
(ou do partido, ou da raça). Os resultados da "libertação" foram tão desastrosos como o sangue generoso
das velhas inquisições.
Porque a verdade, a dolorosa verdade, é que a discussão política de
Deus tem pouco a ver com sua existência ou inexistência: um diálogo
de surdos em que ninguém vence de
forma racional.
Politicamente falando, a única
questão genuína é saber se a eliminação do divino pelo poder temporal nos torna necessariamente melhores. A história desmente esse otimismo. E apenas confirma, como
Chesterton diria, que, quando os homens deixam de acreditar em Deus,
eles não passam a acreditar em nada. Eles apenas estão dispostos a
acreditar em qualquer coisa.
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