São Paulo, quarta-feira, 02 de maio de 2007

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Ivaldo Bertazzo estréia companhia no Anhangabaú

Bailarinos dançam nova versão de "Samwaad"

RAQUEL COZER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não tem mais van para pegar em casa nem desculpa esfarrapada, tipo dor de barriga, para não dançar. O que têm agora os jovens que entraram em 2003 no projeto social Dança Comunidade é salário fixo e nome profissional: eles formam a Cia. de Dança Ivaldo Bertazzo, a primeira companhia do coreógrafo em 30 anos de carreira.
Com 30 bailarinos entre 15 e 23 anos, a nova companhia levará ao palco de dança do Anhangabaú, no sábado, às 19h (na sexta, haverá pré-estréia para convidados, na prefeitura) trechos de "Samwaad" (2004) e "Milágrimas" (2005). Os espetáculos já foram vistos por mais de 180 mil pessoas, mas Bertazzo pede para avisar: não será "nada do que você viu antes".
"Muda o figurino, muda a encrenca coreográfica. Se continuasse igual, continuaria fazendo sucesso, mas eles cresceram e têm mais a mostrar. A quantidade de informação armazenada resulta em comportamento cênico", diz Bertazzo, que montou a companhia com incentivo da Lei Rouanet.
O figurino nem é a maior das mudanças, mas reforça o papel profissional da companhia. "Hoje as meninas usam bustiê. Em um trabalho social, você não pode desvestir; eles se vestem para mostrar o gesto. Agora, são artistas. Não estão nus, não, mas mostram as costelas."
A companhia, no entanto, não perde a "marca" de Ivaldo Bertazzo, a origem em comunidades carentes. "O curioso é que o cara dança lindamente, faz o público chorar, daí volta para casa ouvindo funk: "Sobe em cima, mete embaixo...". Ouve o que quiser, não tô censurando... Quer dizer, tô, né? [risos]. Mas o que importa é que, quando ele dá aula para um ator que só fala texto de Brecht, ele sabe como fazer o outro assimilar sua mensagem", conta, sobre os trabalhos do grupo, que incluem dar workshops nas cidades por onde passa.
Não é mais nem menos, avalia, que um bailarino com formação acadêmica. "Vou ser sincero: no Balé da Cidade, tenho dois ou três que seriam aceitos. Mas o Balé da Cidade, se vier fazer o "Samwaad" como é hoje, não faz. São gramáticas elaboradas, uma velocidade expressiva que se leva muito tempo para construir. O corpo constrói no público uma emoção que o intérprete construiu no músculo. Isso nem ator do [diretor teatral] Peter Brook faz."


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