São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

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ANÁLISE

Maluf é mestre midiático perante câmeras

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao participar no último domingo do "Canal Livre", na Bandeirantes, Paulo Maluf mais uma vez demonstrou que é um animal midiático. Dono de um eleitorado em geral minoritário, mas fiel, Maluf possui o dom de se inflamar perante as câmeras.
A capacidade maior ou menor de performance televisiva depende de talento individual. Há evidências de que câmeras estimulam algumas pessoas a confessar segredos íntimos.
Em outros casos, como parece ser o do tradicional líder do PP paulista, câmeras ensejam verdadeiras atuações dramáticas, mesmo que a situação seja a de "talk show".
O ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf é mestre na performance televisiva. Sua participação em um programa piloto do genial "Fora do Ar" -quadro do final dos anos 90, de Marcelo Tas para o "Fantástico", que infeliz e ironicamente não chegou a ser aprovado para ir ao ar- é sugestiva.
Naquela ocasião, muito à vontade no estúdio, Maluf não se furtou, por exemplo, a revelar que lê seus discursos no teleprompter. Topou a brincadeira e se deixou flagrar em posição de leitura. Foi ele também que contratou Duda Mendonça para fazer a campanha que elegeu Celso Pitta.
Maluf busca agora manipular o recurso que lhe é familiar para se defender de acusações de corrupção e envio ilegal de dinheiro para o exterior.
A tarefa não é fácil. O político insistentemente confirma a sua candidatura, procurando evitar a situação acuada.
O embate no "Canal Livre" foi quente. O programa foi ao vivo, como que para garantir a ausência de manipulação, e teve a participação do primeiro time da Band. A segurança de Fernando Mitre e Carlos Nascimento não abalou a confiança do acusado.
Surdo aos sinais dos tempos, ele se apresenta como imigrante libanês, empresário bem-sucedido, pai de família exemplar, governante pleno de realizações e projetos de futuro, além de réu inúmeras vezes absolvido.
Na estratégia de Maluf, defesa judicial e campanha eleitoral se tornaram parte de um mesmo pacote. Resta saber quais serão as proporções de um eventual naufrágio.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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