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POLÍTICA CULTURAL
Secretário fala em requalificação dos equipamentos públicos e diz que seu trabalho será "revolucionariamente conservador"
Calil defende a descentralização cultural
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Revolucionariamente conservador" é a forma como Carlos
Augusto Calil, 54, pretende marcar seu período frente à Secretaria
da Cultura do município. Empossado há dois meses e meio, após a
crise gerada pela renúncia de
Emanoel Araujo, Calil, que trabalhou na gestão petista de Marta
Suplicy como diretor do Centro
Cultural São Paulo, pretende requalificar as instituições com o
mote "gestão também é cultura".
Para tanto, uma de suas primeiras medidas será dar independência à Biblioteca Mário de Andrade, ao Centro Cultural São Paulo e
ao Teatro Municipal, tornando-os autarquias municipais com orçamento autônomo, mas mantendo fundos públicos.
"É preciso descentralizar, não
posso controlar tudo, senão é impossível gerar políticas públicas",
diz Calil. Tal ação é contrária à
proposta do Estado de dar a gestão de instituições como a Pinacoteca a entidades privadas, por
meio das Organizações Sociais.
"Creio que esta é uma ação precipitada", afirma.
Outra forma de atuação de sua
gestão será um maior controle sobre instituições não-governamentais com função pública, como o Masp (Museu de Arte de São
Paulo). "É preciso exigir que elas
sejam democráticas. O Masp tem
uma dívida anual relativamente
baixa, de R$ 1 milhão. Podemos
ajudar desde que o museu volte a
ter uma atuação correta", diz. O
objetivo é usar a Lei Municipal de
Incentivo à Cultura apenas para
instituições que se adaptem às
normas de sua gestão.
Calil prevê ainda uma comemoração, ao longo dos próximos três
anos, dos 70 anos da gestão de
Mário de Andrade frente à Secretaria da Cultura, de 1935 a 1938.
"Ele é a referência mais importante de atuação na Cultura."
Calil conversou com a Folha sobre seus projetos na secretaria.
Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Emanoel Araujo saiu da
Secretaria da Cultura reclamando
da falta de políticas públicas. Em
que situação você encontrou a secretaria?
Carlos Augusto Calil - É muito
chato ficar falando de dificuldades, todo mundo tem dificuldade
na vida. As dificuldades na secretaria são de dupla natureza: uma
desorganização financeira, que
correspondia à desorganização financeira da gestão passada. Há
muitas dívidas a pagar, da ordem
de R$ 20 milhões, e não havia
acompanhamento financeiro e de
pessoal adequados. O que eu conhecia da secretaria, por conta de
minha participação no Centro
Cultural, é uma dificuldade muito
grande de planejar e uma estruturação do gabinete que não era a
mais eficiente e racional. Eu já havia proposto uma reestruturação,
tanto ao secretário Marco Aurélio
Garcia, que foi quem me trouxe e
é meu amigo, quanto ao Celso
Frateschi. O primeiro não teve
tempo, e o outro teve outras prioridades. Agora vamos trabalhar
pela melhoria da eficiência da gestão, pois gestão também é cultura,
parafraseando o Gustavo Dahl
que afirmou que "mercado também é cultura".
Folha - Como fica o Museu Afro
Brasil, criado por Emanoel Araujo?
Calil - Uma das coisas complicadas na cultura é a criação de uma
instituição nova sem o devido cuidado com pessoal e orçamento,
não há ambos no Museu Afro
nem na galeria Olido. Isso é uma
loucura. As duas estão criadas e
vão ter que ser resolvidas, vou ter
que tirar dinheiro de algum lugar.
Nosso orçamento, de R$ 155 milhões, está congelado em 36%, o
que significa uma redução de capacidade de operação enorme e a
situação não está nada fácil.
Folha - Uma das razões alegadas
por Araujo para sair foi a criação de
museus, como do futebol e da criança, de forma desordenada. Eles serão criados?
Calil - O Emanoel é um homem
de museu, certo? Então ele tem
muito cuidado com isso. As iniciativas do prefeito são de caráter
híbrido, não são propriamente
museus. O Museu do Futebol é
uma instância do ato de torcer,
um lugar onde as pessoas poderão reconhecer suas paixões, não
é bem um museu, mas uma Galeria do Torcedor, nome que talvez
fique. Terá nosso apoio, mas está
sendo organizado pela Secretaria
de Esportes. Ele será criado no estádio do Pacaembu, numa área
hoje mal utilizada, com antigos
dormitórios para atletas.
Folha - E o museu da criança?
Calil - Não é um museu, é inspirado numa instituição mexicana
chamada Museo de los Niños,
mas não tem brinquedo, é uma
feira interativa. Há uma parte
com vinculação científica e outra
parte como um supermercado.
Folha - Mas isso é um incentivo ao
consumo.
Calil - Sim, pois no México há
uma parte científica, outra artística e outra arqueológica. É uma
fundação privada que funciona
com venda de ingressos e patrocínios. Aqui, o que se desenha é
uma fundação pública da prefeitura, que vai ter condições de oferecer ingresso gratuito ou muito
barato. Ele deve funcionar onde é
hoje a Administração Regional da
Sé, na Luz, e se chamar Catavento.
Folha - Já há uma carência para a
manutenção dos espaços atuais,
como a própria Pinacoteca Municipal, que nem sequer local definitivo possui. A prefeitura precisa criar
mais museus em vez de cuidar do
que existe?
Calil - É preciso tomar muito
cuidado, mas essas são iniciativas
que não são da Secretaria da Cultura e que não vão tirar dinheiro
da Cultura. Elas estarão subordinadas ao Anhembi.
Folha - E em relação à Oca, a secretaria vai cuidar daquele espaço?
Calil - Não fiz questão de trazer a
Oca para mim, mas a Cultura programará a Oca a partir do ano que
vem. O problema da Oca é que o
secretário [do Verde e do Meio
Ambiente] Eduardo Jorge entende a Oca como fonte de receita do
parque Ibirapuera, e eu sou fã do
parque. Acho que São Paulo deveria ter muito mais parques. Não
vou tirar receita do Ibirapuera.
Folha - Mas a programação deste
ano é lamentável, o que irá ocorrer
no próximo ano?
Calil - Eles não tinham condição
de fazer uma programação, apenas atenderam uma demanda.
Mas o que o Edemar Cid Ferreira
fez, em relação à Oca, além de ganhar de mão beijada aquele espaço, foi dar à Oca um caráter espetacular de grandes exposições. Eu
não sei se a era dos grandes investimentos vai continuar, mas por
enquanto acabou. Estamos tentando, junto à Secretaria de Relações Internacionais, trazer mostras de países, como o British Museum, de Londres, por exemplo,
outra de Paris, de Berlim e do México. A Oca é o lugar das grandes
exposições, e o prefeito sabe disso. Como vamos fazer isso funcionar, ainda não sabemos, pois o dinheiro que circulava na BrasilConnects é de outra dimensão.
Folha - Há outros espaços no parque, como o prédio da Prodam, que
é disputado pelo MAM e pelo MAC.
Quem vai para lá?
Calil - O certo é que até o fim dessa gestão o prédio da Prodam estará livre para a ocupação de um
museu. Se será o MAM, o MAC
ou os dois, como quer o prefeito,
isso ainda não se sabe. É uma engenharia política complicada, e o
custo para a Prodam sair de lá é
muito caro, de R$ 20 milhões.
Folha - Se são frágeis institucionalmente, como o secretário pode
atuar em relação a essas entidades?
Calil - É preciso ter uma política
para organizações públicas e não
governamentais. Por exemplo,
exigir que sejam democráticas.
Folha - Mas a prefeitura dá cerca
de R$ 1 milhão por ano ao Masp.
Como cobrar melhoria?
Calil - Ela pode dar, não é obrigatório. É preciso ter uma contrapartida. Já disse ao Júlio Neves
que a população paulistana espera do Masp uma atuação mais forte em razão do que esse museu representa para o país. No momento que a secretaria for capaz de
formular uma política pública para as instituições não-governamentais, o Masp, se quiser se beneficiar, terá que se submeter às
regras que vamos criar.
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