São Paulo, sexta-feira, 02 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Spielberg ainda tenta imitar o mestre Kubrick

PEDRO BUTCHER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O que há de melhor em "Minority Report - A Nova Lei" é um rico diálogo entre o conteúdo e a forma do filme, proposto pelo diretor Steven Spielberg. Basicamente, a trama repousa sobre três profetas (mutantes) que, em 2058, em Washington D.C., são responsáveis pelo fim do crime (de morte, não de corrupção).
Deitados em uma banheira amniótica, eles enxergam futuros assassinatos. A nova polícia, do "pré-crime", impede as mortes. Em seis anos, os índices de criminalidade caem a quase zero.
A partir disso, Spielberg constrói uma profecia particular e propõe uma ficção científica situada numa cidade "real", e não mítica, um centro urbano num futuro não muito distante. Mas com pelo menos um elemento apavorante: o scanner de olhos capaz de identificar qualquer cidadão.
"Minority Report" se sustenta nessa futurologia concreta e tem como questão central aflições atuais -como a perda da privacidade da sociedade "Big Brother" de George Orwell e Pedro Bial.
Pensamentos podem ser adivinhados e cartazes publicitários podem reconhecê-lo pela íris, acessar seu "histórico" de vida (e de consumo) e dirigir-se a você.
Por esse cenário sombrio corre Tom Cruise, policial que é vítima de cilada do "pré-crime" e tenta provar a falibilidade do sistema. A única forma de não ser pego é trocando o par de olhos. Essa troca é realizada em sequência aflitiva, cheia de referências a "Blade Runner" e "Laranja Mecânica".
Nesse momento percebe-se como o namoro de Spielberg com Kubrick, que gerou "A.I. - Inteligência Artificial", não terminou. Há muito mais do que referências isoladas. Spielberg ainda tenta imitar o mestre. Mas o problema é que Kubrick era um cineasta de exceção, e Spielberg, apesar da inventividade, é da convenção. Há riqueza nos dois campos, e Spielberg sabe disso, tendo sido responsável pela redefinição de muitas convenções de Hollywood.
Mas Spielberg não é Kubrick, e sua ambição transforma "Minority Report" num filme previsível. Não é difícil adivinhar quem é o vilão do filme, e, passada a diversão de se ver um futuro plausível, resta o tédio de se saber o que vai acontecer. O que está fora de cogitação em "2001", por exemplo. Que venha "Indiana Jones 4".


Minority Report - A Nova Lei
Minority Report   
Direção: Steven Spielberg
Produção: EUA, 2002
Com: Tom Cruise, Colin Farrell, Max von Sydow
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Center Norte, Cinearte, Ibirapuera, Paulista e circuito



Texto Anterior: Cruise acha clone aterrorizante
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.