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CRÍTICA
Spielberg ainda tenta imitar o mestre Kubrick
PEDRO BUTCHER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O que há de melhor em "Minority Report - A Nova Lei"
é um rico diálogo entre o conteúdo e a forma do filme, proposto
pelo diretor Steven Spielberg. Basicamente, a trama repousa sobre
três profetas (mutantes) que, em
2058, em Washington D.C., são
responsáveis pelo fim do crime
(de morte, não de corrupção).
Deitados em uma banheira amniótica, eles enxergam futuros assassinatos. A nova polícia, do
"pré-crime", impede as mortes.
Em seis anos, os índices de criminalidade caem a quase zero.
A partir disso, Spielberg constrói uma profecia particular e propõe uma ficção científica situada
numa cidade "real", e não mítica,
um centro urbano num futuro
não muito distante. Mas com pelo
menos um elemento apavorante:
o scanner de olhos capaz de identificar qualquer cidadão.
"Minority Report" se sustenta
nessa futurologia concreta e tem
como questão central aflições
atuais -como a perda da privacidade da sociedade "Big Brother"
de George Orwell e Pedro Bial.
Pensamentos podem ser adivinhados e cartazes publicitários
podem reconhecê-lo pela íris,
acessar seu "histórico" de vida (e
de consumo) e dirigir-se a você.
Por esse cenário sombrio corre
Tom Cruise, policial que é vítima
de cilada do "pré-crime" e tenta
provar a falibilidade do sistema. A
única forma de não ser pego é trocando o par de olhos. Essa troca é
realizada em sequência aflitiva,
cheia de referências a "Blade Runner" e "Laranja Mecânica".
Nesse momento percebe-se como o namoro de Spielberg com
Kubrick, que gerou "A.I. - Inteligência Artificial", não terminou.
Há muito mais do que referências
isoladas. Spielberg ainda tenta
imitar o mestre. Mas o problema é
que Kubrick era um cineasta de
exceção, e Spielberg, apesar da inventividade, é da convenção. Há
riqueza nos dois campos, e Spielberg sabe disso, tendo sido responsável pela redefinição de muitas convenções de Hollywood.
Mas Spielberg não é Kubrick, e
sua ambição transforma "Minority Report" num filme previsível.
Não é difícil adivinhar quem é o
vilão do filme, e, passada a diversão de se ver um futuro plausível,
resta o tédio de se saber o que vai
acontecer. O que está fora de cogitação em "2001", por exemplo.
Que venha "Indiana Jones 4".
Minority Report - A Nova Lei
Minority Report
Direção: Steven Spielberg
Produção: EUA, 2002
Com: Tom Cruise, Colin Farrell, Max von
Sydow
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Center Norte, Cinearte,
Ibirapuera, Paulista e circuito
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