São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2010

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ANÁLISE

Realismo socialista produziu uma arte artificial e adocicada

MAURICIO PULS
DE SÃO PAULO

Os princípios estéticos que ainda guiam a arte da Coreia do Norte foram elaborados na União Soviética de Josef Stálin (1878-1953), mas suas bases teóricas remontam a Platão (427 a.C-347 a.C.).
Para o pensador grego, a arte não deveria reproduzir uma sociedade imperfeita, mas oferecer aos homens um modelo que não existia, mas deveria existir. Sua função não era revelar o real, mas induzir as pessoas a corrigi-lo: as obras de arte deveriam ser instrumentos do poder.
Sistematizado por Andrej Zdanov e adotado a partir do 1º Congresso de Escritores Soviéticos, em 1934, o novo estilo deveria ter uma forma realista e um conteúdo socialista. Por forma realista entendia-se uma arte descritiva, capaz de retratar a realidade tal como ela era; por conteúdo socialista, a exaltação das virtudes do regime.
Essas duas exigências não produziam um todo harmônico, precisamente porque a imagem idealizada que o regime projetava não correspondia à realidade. Daí aparência artificial e adocicada das pinturas soviéticas, características que persistem na arte da Coreia do Norte.

ÉPICOS
Essas imposições políticas prejudicaram sobretudo as artes plásticas, obrigadas a representar jovens saudáveis e felizes, que parecem saídos das comédias românticas norte-americanas, e trabalhadores e soldados em poses de épicos de Hollywood.
Isso não significa que tudo o que foi produzido na época seja descartável. Escritores como Sholokhov e Pasternak ganharam o Prêmio Nobel, e músicos como Shostakovich e Prokofiev continuaram a criar obras de relevo, tal como o cineasta Eisenstein. Mas muitos se calaram (Akhmatova) ou foram mortos (Mandelstan, Meyerhold).
As pressões se tornaram particularmente agudas de 1946 a 1948, quando Zdanov expurgou os artistas ainda "subservientes ao Ocidente". Após a morte de Stálin, em 1953, a censura abrandou, mas o estilo permaneceu hegemônico até a abertura política (glasnost) iniciada por Mikhail Gorbatchev em 1985.
Fora do Leste Europeu, a esquerda criou uma arte figurativa bem mais ácida, que usava a figuração não para enaltecer o regime, mas para denunciar as contradições do capitalismo. No Brasil, esse realismo social marcou as obras de pintores (Portinari) e escritores (Jorge Amado).


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