|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Realismo socialista produziu uma arte artificial e adocicada
MAURICIO PULS
DE SÃO PAULO
Os princípios estéticos que
ainda guiam a arte da Coreia
do Norte foram elaborados
na União Soviética de Josef
Stálin (1878-1953), mas suas
bases teóricas remontam a
Platão (427 a.C-347 a.C.).
Para o pensador grego, a
arte não deveria reproduzir
uma sociedade imperfeita,
mas oferecer aos homens um
modelo que não existia, mas
deveria existir. Sua função
não era revelar o real, mas induzir as pessoas a corrigi-lo:
as obras de arte deveriam ser
instrumentos do poder.
Sistematizado por Andrej
Zdanov e adotado a partir do
1º Congresso de Escritores
Soviéticos, em 1934, o novo
estilo deveria ter uma forma
realista e um conteúdo socialista. Por forma realista entendia-se uma arte descritiva, capaz de retratar a realidade tal como ela era; por
conteúdo socialista, a exaltação das virtudes do regime.
Essas duas exigências não
produziam um todo harmônico, precisamente porque a
imagem idealizada que o regime projetava não correspondia à realidade. Daí aparência artificial e adocicada
das pinturas soviéticas, características que persistem
na arte da Coreia do Norte.
ÉPICOS
Essas imposições políticas
prejudicaram sobretudo as
artes plásticas, obrigadas a
representar jovens saudáveis
e felizes, que parecem saídos
das comédias românticas
norte-americanas, e trabalhadores e soldados em poses de épicos de Hollywood.
Isso não significa que tudo
o que foi produzido na época
seja descartável. Escritores
como Sholokhov e Pasternak
ganharam o Prêmio Nobel, e
músicos como Shostakovich
e Prokofiev continuaram a
criar obras de relevo, tal como o cineasta Eisenstein.
Mas muitos se calaram (Akhmatova) ou foram mortos
(Mandelstan, Meyerhold).
As pressões se tornaram
particularmente agudas de
1946 a 1948, quando Zdanov
expurgou os artistas ainda
"subservientes ao Ocidente".
Após a morte de Stálin, em
1953, a censura abrandou,
mas o estilo permaneceu hegemônico até a abertura política (glasnost) iniciada por
Mikhail Gorbatchev em 1985.
Fora do Leste Europeu, a
esquerda criou uma arte figurativa bem mais ácida,
que usava a figuração não
para enaltecer o regime, mas
para denunciar as contradições do capitalismo. No Brasil, esse realismo social marcou as obras de pintores
(Portinari) e escritores (Jorge
Amado).
Texto Anterior: Pintor dissidente usa sorriso como crítica Próximo Texto: Diversidade dá o tom do Festival de Cinema Judaico Índice
|