PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O músico Gutemberg Guarabyra, 55, tem um tesouro guardado em casa e quer vendê-lo por R$ 25 mil. É um lote de dezenas de horas de gravações ao vivo, feitas nos anos 70 com nove entre dez estrelas da MPB de então.
Entre gravações de Paulinho da Viola, João Bosco, Edu Lobo, Gal Costa, João Donato, Nelson Cavaquinho, Jackson do Pandeiro, Altamiro Carrilho etc., chamam a atenção três interpretações até hoje inéditas de Caetano Veloso para canções de Assis Valente, compositor central na história de Carmen Miranda.
Caetano interpreta "Camisa Listada", "Maria Boa" e "Uva de Caminhão", entre fartos intervalos de conversa com a platéia e emocionados elogios a Assis. O lote em poder de Guarabyra é uma série de shows que ele dirigiu em 75, no Teatro Casa Grande, no Rio.
Guarabyra, do histórico trio fundador do rock rural Sá, Rodrix & Guarabyra, era um militante de MPB e política. Diretor do Festival Internacional da Canção de 70, comandara de dentro da Rede Globo uma rebelião de compositores contra o alinhamento entre a emissora e o regime militar.
O episódio rendeu renúncia coletiva de autores como Tom Jobim, Chico Buarque e Marcos Valle em participar daquele FIC.
"Aquele episódio acabou unindo a MPB como jamais havia acontecido antes", relembra Guarabyra, que em seguida acompanhou os compositores Vitor Martins, Aldir Blanc e Jards Macalé na liderança de um movimento para criar o Ecad (Escritório Central de Arrecadação de Direitos), contra a fragmentação que regia os direitos autorais até então.
"Era bangue-bangue, sofríamos ameaças de morte. Houve uma reunião na casa de Hermínio Bello de Carvalho em que estava todo mundo. Foi impressionante", diz. Consequência disso foi a criação de uma nova sociedade, a Sombrás, que mobilizou novas gerações da MPB numa campanha de moralização das práticas de arrecadação no país.
Para obter recursos para a Sombrás é que se realizou a série de shows. As fitas guardadas por Guarabyra acumulam gravações de Sérgio Ricardo, Marília Medalha, Marlui Miranda, Luiz Melodia, Simone e dezenas de outros.
Ele admite que só decidiu se desfazer das fitas porque está em dificuldades financeiras. "Devem valer R$ 80 mil, no mínimo", afirma. Até agora não apareceram interessados.


Texto Anterior: "Reality show": "Survivor" estréia versão "amazônica"
Próximo Texto: Bernardo Carvalho: A realidade replicante
Índice