São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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CRÍTICA

Intérprete mostra fôlego e coragem

DA SUCURSAL DO RIO

"Hoje" não é a redenção milagrosa de Gal, como cogitavam fãs descontentes e críticos contentes com o desgoverno recente de sua carreira, e muito menos um desastre. É um bom disco, cujo mérito maior é o renascimento da coragem da cantora.
Gal Costa rejeitou o modelo embalsamador de diva, que ameaçava incorporar, e voltou às novas composições. O resultado de sua colheita é irregular, mas os bons frutos são maioria.
Um deles é a faixa-título, canção de Moreno Veloso que tem sua força na extrema delicadeza de melodia e letra. Na mesma chave está "Nada a Ver" (Hilton Raw, Lenora e Marcos Augusto), em que a melancolia das notas longas se traduz no piano e no baixo acústicos que acompanham Gal.
Cesar Camargo Mariano volta a brilhar no piano e no arranjo de "Pra que Cantar", um belo samba de fossa anti-Carnaval ("Me deixem fora dessa euforia de três dias") de Nuno Ramos. O artista plástico também é um dos autores de "Jurei", eficiente sambão com toques jazzísticos.
Em "Os Dois", a melodia de Moisés Santana é ótima, um samba-canção que vira blues nas regiões graves, mas a letra traz o enjôo das duplas citações: faz jogos de palavras com músicas da bossa nova, como Caetano Veloso fizera em "Saudosismo".
"Santana" (Junio Barreto/João Carlos), de letra intrincada, ficou com boa mistura entre acústico e eletrônico, emulando um pouco de Jorge Ben Jor. Este é referência nítida em "Logus Pé" (Tito Bahiense), um passeio surrealista pelas ruas de Salvador que ganha de Gal interpretação à anos 70.
Em "Voyeur" (Péri), a tibieza da música é disfarçada pela agradável leveza baiana do clima criado por Gal e Cesar. Essa leveza também está na faixa de abertura, "Mar e Sol", mas a letra de Carlos Rennó para a melodia de Lokua Kanza é por demais banal.
Os dois são parceiros na também banal "Te Adorar" e na múltipla "Sexo e Luz", que cativa pelos caminhos inusitados e crescendos, ótimos para Gal. A gravações tem vocais de Kanza, bem superiores aos que o paulista Silvera faz em outras faixas.
A contribuição de Caetano ("Luto") é, também, uma bela canção situada no Carnaval, sofrida declaração de amor à festa. Chico Buarque, ao lado do aqui letrista José Miguel Wisnik, participa com a deliciosamente sinuosa "Embebedado".
Cantando com suavidade e novo fôlego, Gal reencontra o amanhã em "Hoje". (LFV)


Hoje
   
Artista: Gal Costa
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 30, em média


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