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CDS
SAMBA/CRÍTICA
Sete meses após a morte do autor de "Malandragem Dá um Tempo", gravadora reúne suas músicas em quatro discos
Caixa de Bezerra é trilha do Brasil que não muda
DA SUCURSAL DO RIO
Talvez seja por oportunismo
que a Sony BMG esteja lançando "O Samba Malandro de Bezerra da Silva" sete meses depois
da morte do cantor. Até porque,
em vez de respeitar discos originais, a caixa os embaralha em
quatro CDs de compilação. Mas a
verdade é que o lançamento vem
em ótima hora.
Vários dos sambas que Bezerra
gravou entre 1980 e 1993 (o período da caixa, com algumas exceções) são bem maiores do que a
gaveta folclorizante em que muita
gente tentou e tenta trancá-los. A
ojeriza aos políticos, ainda que
simplista, espelha o desencanto
dos tempos de "mensalão". A denúncia da hipocrisia de policiais,
juízes e abastados fala da desigualdade social sem os eufemismos da mídia e do senso comum.
"Se vocês estão a fim de prender
o ladrão/ Podem voltar pelo mesmo caminho/ O ladrão está escondido lá embaixo/ Atrás da gravata e do colarinho", diz ele em
"Vítimas da Sociedade", um dos
melhores momentos do melhor
CD da caixa, o 1.
Batizado de "Eu Sou Favela" por
causa do grande samba de Noca
da Portela e Sérgio Mosca -que
Bezerra canta com uma contundência que Seu Jorge nem tangencia em sua recente versão-, o CD
reúne outras ótimas músicas de
fundo social, como "Produto do
Morro", "Candidato Caô Caô",
"Quando o Morcego Doar Sangue" e "Pena de Morte".
Os policiais, vistos como um
"outro lado" ameaçador, os "malandros" do morro e os "otários"
e "cagüetes" fazem parte da fauna
de "Malandro É Malandro, Mané
É Mané", o segundo CD.
"Malandro Rife", "Defunto Cagüete", "Bicho Feroz" e "Defunto
Grampeado" são alguns dos destaques, além de "Meu Bom Juiz",
um samba dos craques Beto Sem
Braço e Serginho Meriti em homenagem velada ao traficante Escadinha.
"Cocada Preta e Branca no Terreiro", o terceiro CD, é uma extensão do segundo, mas se concentra nas drogas, a "erva" e o
"pó". O disco abre logo com o
maior sucesso de Bezerra, "Malandragem Dá um Tempo" ("É
por isso que eu vou apertar/ Mas
não vou acender agora"), e conta
com crônicas hilárias como "A
Semente", "Garrafada do Norte" e
"Se Leonardo Dá Vinte".
A caixa fecha com outros espécimes: "Cornos, Piranhas, Sogras,
Pastores e Outros Manés". O sarcasmo dá o tom em "Seqüestraram Minha Sogra", em que o seqüestrador paga ao genro para
devolver a "megera", e continua
em "Viúva de Seis", "Pastor
Trambiqueiro" e outros sambas.
O pesquisador Rodrigo Faour
fez um trabalho cuidadoso de
compilação, usando a peneira para, tanto quanto possível, não deixar passar coisa ruim. Bezerra foi
grande mas também repetitivo.
Embora menos fiel ao cantor, é
mais honesto com o consumidor
lançar uma caixa como essa do
que todos os discos originais.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
O Samba Malandro de Bezerra da Silva
Gravadora: Sony BMG
Quanto: R$ 40 (4 CDs)
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