São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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CRÍTICA

"Sabor" evidencia contraste extremado

ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA

O contraste entre a leveza do Rio de Janeiro da nova novela das 6 e o susto provocado pelo toque de recolher imposto pelos traficantes cariocas na última segunda-feira marcou a estréia de "Sabor da Paixão".
A atmosfera da novela não é realista. A idéia é contar uma história "simples" e positiva. Uma família feliz em torno de um pai português (Lima Duarte), que faz do almoço de domingo experiência sagrada prestes a desaparecer.
A felicidade adocicada do ritual é exagerada, anunciando de antemão a ruptura por vir, com a morte do patriarca. Outras convenções do gênero estão presentes na oposição fraternal entre Lisa, a irmã apaixonada e impulsiva, mãe solteira da caçula criada como irmã -identidade disfarçada, paixão versus segurança.
O encontro cinderelesco entre os dois protagonistas, com direito a sapatinho voador, enfatiza o clima de conto de fadas. Mas cenários e figurinos transmitem sensação de realidade. A narrativa está situada na cidade, com referências a marcos urbanos, em um tempo provavelmente contemporâneo, a julgar pelos figurinos.
A coincidência do dia da estréia com um dia de terror produziu um contraste extremado, revelador de dicotomias que vão se consolidando. Os eventos mais do que suspeitos no Rio mereceram relativa pouca atenção da TV, o que talvez indique a relevância deles. Não se trata de cobrar da novela que seja documentário. Ao contrário, talvez uma ênfase na imaginação possa produzir efeitos mais interessantes. Melhor ainda seria investir na mudança dos termos dessa equação.
Cabe notar o contraste que se delineia entre dois estilos. Representações "cor-de-rosa", povoadas por personagens envoltas em uma aura otimista, de quem é capaz de transformar, e representações sombrias, de um universo violento e inevitável. Ambos igualmente insatisfatórios.


Sabor da Paixão   
Quando: seg. a sáb. às 17h50, na Globo




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