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CRÍTICA
"Sabor" evidencia contraste extremado
ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA
O contraste entre a leveza
do Rio de Janeiro da nova
novela das 6 e o susto provocado
pelo toque de recolher imposto
pelos traficantes cariocas na última segunda-feira marcou a estréia de "Sabor da Paixão".
A atmosfera da novela não é
realista. A idéia é contar uma história "simples" e positiva. Uma
família feliz em torno de um pai
português (Lima Duarte), que faz
do almoço de domingo experiência sagrada prestes a desaparecer.
A felicidade adocicada do ritual
é exagerada, anunciando de antemão a ruptura por vir, com a
morte do patriarca. Outras convenções do gênero estão presentes na oposição fraternal entre Lisa, a irmã apaixonada e impulsiva, mãe solteira da caçula criada como irmã -identidade disfarçada, paixão versus segurança.
O encontro cinderelesco entre
os dois protagonistas, com direito
a sapatinho voador, enfatiza o clima de conto de fadas. Mas cenários e figurinos transmitem sensação de realidade. A narrativa está
situada na cidade, com referências a marcos urbanos, em um
tempo provavelmente contemporâneo, a julgar pelos figurinos.
A coincidência do dia da estréia
com um dia de terror produziu
um contraste extremado, revelador de dicotomias que vão se consolidando. Os eventos mais do
que suspeitos no Rio mereceram
relativa pouca atenção da TV, o
que talvez indique a relevância
deles. Não se trata de cobrar da
novela que seja documentário. Ao
contrário, talvez uma ênfase na
imaginação possa produzir efeitos mais interessantes. Melhor
ainda seria investir na mudança
dos termos dessa equação.
Cabe notar o contraste que se
delineia entre dois estilos. Representações "cor-de-rosa", povoadas por personagens envoltas em
uma aura otimista, de quem é capaz de transformar, e representações sombrias, de um universo
violento e inevitável. Ambos
igualmente insatisfatórios.
Sabor da Paixão
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Quando: seg. a sáb. às 17h50, na Globo
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