São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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"Pai deve orientar filho a escolher"

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

"Criança vê toda a programação da televisão, inclusive novela. Isso preocupa", diz a pesquisadora Raquel Paiva, 45, professora de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e uma das organizadoras do livro "Remoto Controle", lançado no ano passado com uma série de análises sobre a programação infantil.
"As histórias trazem aspectos muito negativos da vida. Mas ainda acho piores os seriados da TV norte-americana que passam aqui", diz. Ela, que tem uma filha de 14 anos, conta que os pais não conseguem controlar mais o que as crianças devem ou não assistir.
Antes, segundo ela, a preocupação era com a violência nos desenhos animados e o erotismo na televisão. "A audiência televisiva entre crianças e adolescentes mudou. Se ontem eles se concentravam num determinado tipo de produção, hoje eles assistem tudo. A gente perdeu a referência sobre o que é bom ou ruim. A pergunta que devemos fazer é que tipo de cognição você consegue com esses produtos."
Uma das soluções que a pesquisadora propõe é mostrar, cada vez mais, como são produzidos os programas, para que o público infantil aprenda a separar realidade de ficção (ou fantasia). "É preciso quebrar o fascínio, o mistério e a edição, promovendo um resgate para o real e o concreto. Acho que seria ideal", diz.
Também vale promover uma leitura crítica do que se vê na TV. "Proibir não vai adiantar. Pais têm a ilusão de que os filhos estão por fora do que acontece. Não acho difícil educar hoje em dia. É preciso, no entanto, estar presente o tempo todo. O jeito, então, é educar a criança e o adolescente para como assistirão à televisão", afirma.
Para Sirlene Reis, 44, diretora-executiva do instituto Mídiativa, valores fundamentais na formação não são tratados na TV. "A programação não avançou muito e continua com sérios problemas, como falta de opção, falta de horário e falta de inovação", afirma.
A ONG realiza anualmente uma pesquisa com crianças e adolescentes que aponta os programas mais indicados tanto para o público quanto para os anunciantes. No ano passado, o "MídiaQ" elegeu "Castelo Rá-Tim-Bum" (de 4 a 7 anos) e "A Grande Família" (de 12 a 17 anos). Não houve prêmio na categoria 8 a 11 anos porque os programas indicados não atendiam aos critérios exigidos.
Segundo os "Dez Mandamentos" da Mídiativa, os programas devem confirmar valores, incentivar a auto-estima, preparar para a vida, gerar curiosidades, não ser apelativo, ser saudavelmente atraente, despertar o senso crítico, mostrar a realidade, gerar identificação e estimular a brincadeira.
"É notório que a criança prefere ver um programa para ela em relação ao programa adulto. Ela pode até ter curiosidade. Mas faltam opções e investimentos nesse segmento", diz Reis.

Mudança na lei
Outra opção, apontada por especialistas, é o novo sistema de classificação indicativa, que está em discussão no Ministério da Justiça.
Anteontem, começou em Brasília uma série de audiências públicas que segue até novembro por todo o país para debater alterações na lei atual, que dá a classificação, o horário sugerido e a maneira de apresentar tal indicação nos programas. Até lá, é possível também participar da consulta pública, respondendo ao questionário disponível no site www.mj.gov.br/classificacao/consultatv. (MB)

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