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"O BAILE DOS BOMBEIROS"
Milos Forman faz sátira do socialismo
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Em 1967, quando Milos Forman lançou "O Baile dos
Bombeiros", seu país, a República
Tcheca, então Tchecoslováquia,
vivia uma primavera por trás da
Cortina de Ferro -um período
de distensão e relativa liberalização do regime comunista, a Primavera de Praga.
Um ano depois, quando seu filme chegava ao Ocidente, os tanques russos voltavam a invadir o
país, Forman se exilava nos Estados Unidos e sua obra ganhava
novos contornos: o que antes era
visto como uma sutil comédia social ganhou, nas declarações do
próprio autor, ares de sátira ao regime socialista. "Uma metáfora
de todo o corrupto e incompetente sistema soviético", diria Forman, em solo americano.
Numa cidade do interior tcheco, os bombeiros organizam um
baile em homenagem ao moribundo patrono da corporação.
Uma festa cujos organizadores legislam em causa própria, roubando as prendas e se embriagando
atrás das candidatas à rainha do
baile -uma sátira à farra dos burocratas socialistas? Quando um
incêndio nos arredores interrompe a festa, aos bombeiros só resta
aconselhar o desconsolado dono
da casa a colocar sua cadeira um
pouco mais perto do fogo para
não se resfriar.
Por um estilo quase documental, que subverte brilhantemente
o chamado realismo soviético, em
filmes como este e "Os Amores de
uma Loira" (1966), também lançado pela Continental, Forman se
firmou como um dos expoentes
da chamada nouvelle vague tcheca. Movimento que, a exemplo de
seu correlato francês, nasceu da
coincidência entre a eclosão de
certo mal-estar da juventude e a
surpreendente ascensão de um
sem-número de jovens cineastas.
O cinema moderno em sua essência: o momento em que uma
geração de jovens irados, ela própria moldada pelo cinema, leva
sua nova percepção de mundo
para as telas. Momento de um duplo reconhecimento, de uma adequação efêmera, mas capaz de
produzir toda uma mitologia dos
tempos modernos.
A imagem mais recorrente nos
filmes tchecos de Forman (que viria a se consagrar, em Hollywood,
por "Amadeus" e "Estranho no
Ninho") é a de jovens entediadas
pelo assédio de velhas e simpáticas caricaturas das autoridades
soviéticas. São as caçulas das mulheres emancipadas dos filmes de
Vera Chytilová, cineasta e musa
da geração, as "pequenas margaridas" da Primavera de Praga.
O Baile dos Bombeiros
Direção: Milos Forman
Distribuidora: Continental; R$ 40, em média
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