São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2000

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"INQUIETUDE"
Liberdade de Oliveira desafia o espectador

DA REPORTAGEM LOCAL

Que "Inquietude" é essa que dá título ao filme de Manoel de Oliveira em cartaz a partir de hoje em São Paulo?
Primeiro, a inquietude formal.
Oliveira é o diretor mais idoso em atividade no cinema. Por essa mesma razão, impressiona que seus filmes contenham cada vez mais riscos e desafios -para o espectador e para o próprio diretor.
Em "Inquietude" (1998), há três histórias diferentes, com diferentes estruturas formais (teatro-romance-fábula), entrelaçadas com complexidade e firmeza.
A liberdade com que Oliveira passa de um lugar a outro não é só demonstração de maestria -revela o quanto o cinema, para ele, é proposição aberta, arte que se faz materialmente diante do espectador, e não às suas costas.
Um outro objetivo, contudo, produz as mudanças estilísticas e diz respeito à principal "inquietude" do filme -aquela com a passagem do tempo e a mortalidade.
Para um homem que chegou aos seus 92 anos, como Manoel de Oliveira, o tempo não pode ser um mero fetiche temático.
Assim, ele oferece três "encenações" do tempo: a primeira como ironia (teatro), a segunda como sublime (narração romanesca) e a terceira como mito (fábula).
A comédia da imortalidade domina a genial primeira parte, em que um velho cientista tenta convencer o filho também cientista a se matar no auge da glória.
Aqui, a única mulher é apenas imagem patética da juventude perdida daqueles homens entretidos na construção da celebridade.
Na segunda parte, o drama é o da fascinação de um escritor burguês por uma prostituta.
O filme cairia no pessimismo búdico ou no sexismo decadentista não fosse pelo epílogo. (ALN)


Inquietude
Inquietude
     Direção: Manoel de Oliveira Produção: Portugal/França, 1998 Com: Luis Miguel Cintra, Diego Dória Quando: a partir de hoje no Top Cine




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