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"INQUIETUDE"
Liberdade de Oliveira desafia o espectador
DA REPORTAGEM LOCAL
Que "Inquietude" é essa
que dá título ao filme de Manoel de Oliveira em cartaz a partir
de hoje em São Paulo?
Primeiro, a inquietude formal.
Oliveira é o diretor mais idoso
em atividade no cinema. Por essa
mesma razão, impressiona que
seus filmes contenham cada vez
mais riscos e desafios -para o espectador e para o próprio diretor.
Em "Inquietude" (1998), há três
histórias diferentes, com diferentes estruturas formais (teatro-romance-fábula), entrelaçadas com
complexidade e firmeza.
A liberdade com que Oliveira
passa de um lugar a outro não é só
demonstração de maestria -revela o quanto o cinema, para ele, é
proposição aberta, arte que se faz
materialmente diante do espectador, e não às suas costas.
Um outro objetivo, contudo,
produz as mudanças estilísticas e
diz respeito à principal "inquietude" do filme -aquela com a passagem do tempo e a mortalidade.
Para um homem que chegou
aos seus 92 anos, como Manoel de
Oliveira, o tempo não pode ser
um mero fetiche temático.
Assim, ele oferece três "encenações" do tempo: a primeira como
ironia (teatro), a segunda como
sublime (narração romanesca) e a
terceira como mito (fábula).
A comédia da imortalidade domina a genial primeira parte, em
que um velho cientista tenta convencer o filho também cientista a
se matar no auge da glória.
Aqui, a única mulher é apenas
imagem patética da juventude
perdida daqueles homens entretidos na construção da celebridade.
Na segunda parte, o drama é o
da fascinação de um escritor burguês por uma prostituta.
O filme cairia no pessimismo
búdico ou no sexismo decadentista não fosse pelo epílogo.
(ALN)
Inquietude
Inquietude
Direção: Manoel de Oliveira
Produção: Portugal/França, 1998
Com: Luis Miguel Cintra, Diego Dória
Quando: a partir de hoje no Top Cine
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