ESPECIAL PARA A FOLHA

Rivette de volta ao grande complô. Em "Defesa Secreta", o cineasta revisita o tema central de sua obra. Ele, que gosta de dizer que o verdadeiro tema de um filme é o método sob o qual foi realizado, sempre sustentou o complô como concepção do cinema. Afinal, a tarefa de qualquer cineasta é unir a equipe de filmagem em torno de um pequeno complô. Foi assim que Rivette realizou, sem dinheiro, seu longa de estréia "Paris nous Appartient" (1960), uma das obras inaugurais da nouvelle vague francesa, em que ele reunia suas personagens em torno de um inexplicável complô. Uma remanência da "política dos autores": afinal, esta não fora senão um complô de jovens críticos de cinema (Rivette, Godard, Rohmer e Truffaut) que ambicionavam a cadeira do diretor. Não era à toa que André Bazin chamava seus discípulos de "jovens turcos". Dentre eles, Rivette não foi apenas o crítico mais brilhante, mas também o mais fiel aos princípios do mestre.
"Defesa Secreta" é, nesse sentido, um belo exemplo. As duas fases da "política", a obsessão pelo cinema clássico hollywoodiano e a "conversão" ao neo-realismo de Rossellini, encontram-se aqui integradas sob uma perspectiva baziniana. Bazin condenava a descontinuidade camuflada do cinema clássico. Idealizava tornar mais verdadeira a falsa continuidade da narrativa clássica, e é essa operação que está em "Defesa".
Rivette parte do esquema clássico: um personagem se percebe numa situação e a ela reage. Impulsionada pelas descobertas do irmão, Sandrine Bonnaire decide investigar a morte de seu pai. É a fórmula clássica: procurando solucionar o mistério, Bonnaire vai para cima e para baixo, mas sua ação corre em tempo quase real, diluindo-se na duração. Rivette busca, sobretudo, por aqui, o sentido de continuidade. (TMM)

Defesa Secreta
Secrete Défense
    Direção: Jacques Rivette Produção: França, 1998 Com: Sandrine Bonnaire, Jerzy Radziwilowicz, Grégoire Colin Quando: a partir de hoje no Top Cine