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"DANÇANDO NO ESCURO"
Filme de diretor dinamarquês com a cantora islandesa ganhou a Palma de Ouro em Cannes
"Lars é certificadamente louco!", diz Björk
CLARK COLLIS
DO EMPIRE/PLANET SYNDICATION
Até mesmo pelos padrões do
Festival de Cannes, obcecado por
controvérsia, é preciso dizer que
"Dançando no Escuro", o filme de
Lars von Trier, que tem estréia
prevista no Brasil para 24 de novembro, causou enorme confusão no evento deste ano.
Em parte, o problema é o filme
em si -um musical em larga medida improvisado e dolorosamente longo sobre uma mulher
cega que é meio operária, meio
assassina. Alguns críticos choravam abertamente durante as exibições do filme no festival, mas
outros eram decididamente menos entusiásticos.
Alguns dos comentaristas detestaram tanto o trabalho que
ameaçaram organizar um protesto caso lhe fosse dada a Palma de
Ouro, um estado de coisas que
não impediu o júri presidido por
Luc Besson de fazer exatamente
isso.
Tumulto
O maior tumulto, porém, foi
causado pelo próprio Von Trier,
que descreveu sua protagonista,
Björk, como "uma louca" e disse
que trabalhar com ela fora uma
experiência "terrível".
De fato, Catherine Deneuve, co-estrela do filme, sugeriu que a
cantora pop islandesa ficou tão
traumatizada com o processo de
filmagem que talvez demore uma
década antes que ela decida fazer
seu segundo trabalho no cinema.
Assim, é uma espécie de surpresa quando, alguns meses mais tarde, Björk liga para o "Empire",
aparentemente feliz por discutir o
filme.
"Eu sou muito protetora com
relação ao processo criativo", explica a cantora, quando questionada sobre sua reticência anterior.
"Acredito que você primeiro
cria o filme, e depois espera.
Quando sai dele, emocionalmente, é aí que se fala sobre o assunto.
É nisso que eu e Lars realmente
discordamos. Ele filmava as cenas
mais pesadas e logo depois tinha
vontade de falar disso diante das
câmeras. Acho que o filme dele
sobre "Os Idiotas" é mais longo
que "Os Idiotas" (1999), sabe? Ele é
certificadamente louco!"
Muitas pessoas acharam que ele
estava louco ao escalar Björk para
o altamente complexo papel de
Selma, uma mãe solteira desesperadamente pobre. Até mesmo a
cantora demorou um ano a ser
convencida, a despeito da reputação de Von Trier como um dos
principais cineastas europeus.
"Mas eu não conhecia o trabalho de Lars", diz a srta. Gudmundsdottir (Björk). "Ele me deu
"Ondas do Destino" (1996) e eu
descobri que gostava de algumas
coisas e detestava outras. Não
gosto das partes com o Jethro
Tull. Dá vontade de apanhar uma
chave de fendas e um alicate e
consertar o filme um pouco."
A despeito dessas diferenças
musicais, Björk concordou também em escrever a trilha de "Dançando no Escuro", usada nas surrealistas sequências de canto e
dança do filme -foram precisos
18 meses para produzir o punhado de faixas, de que Von Trier
subsequentemente admitiu ter
"aprendido a gostar".
"Eu o avisei", diz Björk, quando
relembrada do comentário do diretor. "Disse que minha música
era muito idiossincrática e que, se
ele quisesse o Abba, era melhor
contratar outra pessoa."
E os problemas de Björk não
acabaram quando as filmagens
começaram de fato. "É verdade
que eu abandonei o estúdio de filmagens", diz ela, "porque eles começaram a retalhar minhas canções enquanto eu estava filmando
em outro lugar. Era uma loucura.
O momento do qual eu mais me
orgulhava, uma ascensão emocional com uma orquestra de 80 instrumentos, estava sendo encoberto por duas ovelhas balindo. Eu
larguei as filmagens e voltei com
um manifesto que tratava puramente de música. Era sobre coisas
como a minha necessidade de
editar as canções e de cuidar do
mix final da música".
No entanto, se bem que problemático, o fruto dessa relação de
trabalho é um filme intensamente
comovente, que vê Björk mais
que sustentando o seu lado de um
duelo com atores como Deneuve,
David Morse e Udo Kier. Não que
ela tenha pressa em repetir a experiência.
"Sempre acreditei que minha
missão na vida era a música", diz
ela em seu peculiar sotaque meio
escandinavo, meio cockney.
"Houve momentos, enquanto estava fazendo o filme, em que eu
me sentia como se estivesse tendo
um caso. Foi estranho perceber o
quanto sou religiosa sobre música."
Assim, a despeito de seus muitos desacordos, a estrela pop diria
que continua amiga de Von Trier?
"Hummmm.... Acredito que é
como pessoas que voltam da
Guerra do Vietnã, ou algo assim",
conclui. "Eles voltam e têm conversas peculiares e ninguém entende do que falam. E definitivamente houve momentos em que
salvamos a vida um do outro, se
quiser. Mas houve outros momentos em que havia muita dor,
também..."
Tradução Paulo Migliacci
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