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Saem dois trabalhos inéditos que reforçam o valor do teórico para as ciências humanas
Novas estruturas para Barthes
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
A impressionante atualidade de
Roland Barthes (1915-1980) será
confirmada nos próximos dias na
França com o lançamento de dois
escritos inéditos do ensaísta: "Como Viver Junto" (Comment Vivre Ensemble) e "O Neutro" (Le
Neutre). Pouco do que se publicou no país nos últimos dois anos
no campo das ciências humanas e
da crítica literária tem tanta importância quanto essas obras.
Editados pela Seuil, os livros
chegam às livrarias na semana
que vem. Eles são as primeiras
manifestações em homenagem a
Barthes que ocorrerão em novembro na França e vão culminar
em um grande evento multimídia
no Centro Georges Pompidou
(Beaubourg), a partir do próximo
dia 27.
Os dois livros são compostos
das notas de dois cursos que Barthes deu entre 1977 e 1978 no Collège de France, a célebre instituição de ensino parisiense. A reprodução oral das aulas também será
lançada em CD, em dois álbuns
diferentes, com um total de 35 horas de gravação.
A Seuil preparou ainda uma nova edição, em formato chamado
de "semibolso", das obras completas do ensaísta, que sairão em
cinco volumes, trazendo outros
escritos inéditos em livro.
A edição brasileira de "Viver
Junto" e "O Neutro" já está garantida. Os dois livros serão publicados simultaneamente no segundo
semestre de 2003, pela Martins
Fontes, sob a supervisão da ensaísta Leyla Perrone-Moisés, que
foi amiga e discípula de Barthes.
A exposição do Beaubourg vai
apresentar o pensamento e a vida
de Barthes recorrendo a obras de
artes plásticas, manuscritos, arquivos sonoros, objetos e documentos visuais inéditos. A mostra
será distribuída em mais de dez
salas, com trabalhos de Cy
Twombly, Louise Bourgeois, Arcimboldo, Mondrian etc.
Roland Barthes deixou um legado valiosíssimo ao pensamento
do século 20, sobretudo no campo
da crítica literária e estética e na
análise dos discursos e mitos culturais.
Em sua época, era um superstar
do pensamento francês. A frequência a seus cursos no Collège
de France, cujas aulas são abertas
ao público, foi tão grande, que a
instituição teve que colocar autofalantes em salas anexas.
"Era um acontecimento mundano e midiático", conta Perrone-Moisés. "Perguntei a Barthes o
que estava achando da experiência. Ele me disse, angustiado: "antes eu tinha ouvintes, no Collège
eu tenho um público. Não sei para
quem estou falando'".
Os dois cursos são fundamentais. "Como Viver Junto" é uma
reflexão sobre os modos de tomar
distância do coletivo, do gregário,
para constituir uma dieta de vida
baseada na solidão ou em pequenos grupos. Parece que Barthes
está de antemão respondendo,
em nome da liberdade, a uma
época futura (a nossa), que veria
expandir a solidão deprimida, a
vigilância visual e os agrupamentos "big brother".
"O Neutro" é a reivindicação do
status do incerto, esta parte oprimida na sociedade, que sempre
exige que se tome partido", diz
Perrone-Moisés, que prepara um
ensaio sobre os inéditos para o caderno Mais!, da Folha.
A ensaísta ressalta a importância das reedições e a atualidade de
Barthes: "Ele era extremamente
atento ao poder autoritário e falseador das linguagens. Para ele, a
única forma de linguagem que escapava desse poder era a literatura, que consegue manter o sentido
em suspenso. A literatura é o que
combate o excesso de sentido que
desemboca no não-sentido da informação atual".
COMMENT VIVRE ENSEMBLE e LE
NEUTRE - Autor: Roland Barthes.
Editora: Seuil. Preço: 22 euros, cada
volume (256 págs. e 272 págs.,
respectivamente).
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