|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA - FESTIVAIS
Brasília opta (com acerto) pelo óbvio
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
O júri do 32º Festival de Cinema
de Brasília, encerrado na terça-feira, não tentou fugir ao óbvio e
deu os prêmios principais a filmes
que obviamente se destacaram da
média: "Santo Forte", de Eduardo
Coutinho, exibido na segunda-feira (e atualmente em cartaz em
São Paulo), e "São Jerônimo", de
Júlio Bressane.
O primeiro ganhou como melhor filme; o segundo, como melhor direção. Poderia ser invertido, poderiam ter dividido os dois
prêmios. Não havia muita escolha, tão clara era a percepção de
sua maior solidez em relação aos
demais concorrentes.
O júri também foi sensato ao
dar um prêmio especial a "Hans
Staden". Filmar a história do alemão quase devorado pelos tupinambás no século 16 é uma proposta ambiciosa, de que a produção dá conta em termos de espetáculo. Mas o júri poderia muito
bem ter evitado a justificação ridícula ao prêmio: "pela excelência
da realização".
Ou, se acha isso sinceramente,
devia ter publicado junto um "paper" explicando o que vem a ser
isso. Talvez um selo de qualidade,
garantindo que o filme está de
acordo com as normas da "qualidade brasileira". Nesse caso, não
se vê muito bem por que "O
Tronco", de João Batista de Andrade, ou "Gêmeas", de Andrucha Waddington, também não
ganharam o mesmo aval.
Tanto "Hans Staden" como "O
Tronco" têm virtudes técnicas inquestionáveis e padecem de problemas de concepção, que os levam a uma relativa perda de interesse após o primeiro terço de exibição. Também não se pode negar a "excelência" de "Gêmeas"
-embora Waddington se situe
bem mais na tradição do filme
publicitário do que na do cinema.
Se optou por uma solução radical no prêmio de roteiro (dado a
"Santo Forte", um documentário), o júri fraquejou clamorosamente ao dar uma menção honrosa a "Milagre em Juazeiro",
pela "inventiva articulação entre
documentário e ficção". Na verdade, trata-se de um filme duplamente populista, na ficção e no
documentário, antiquado em
ambos os registros, uma espécie
de anti-Glauber, em que crenças
populares, em vez de discutidas
como sintomas de atraso e miséria, são antes de tudo exaltadas.
São deslizes aceitáveis, e pode-se dizer que o júri acertou no atacado e fraquejou no varejo. Se
existe uma injustiça clara a destacar, está no fato de "Cruz e Souza", de Sylvio Back, ter saído de
mãos abanando. Entre os demais
prêmios, o menos contestável é,
sem dúvida, o de melhor atriz.
Fernanda Torres está formidável
do duplo papel de "Gêmeas".
Vale, por fim, chamar a atenção
para "Senta a Pua!", documentário de Erik de Castro apresentado
na segunda-feira, que tem o mérito inegável de resgatar a história
dos aviadores brasileiros durante
a Segunda Guerra Mundial. É
uma pena que Castro opte por um
documentário tipo TV, retalhe os
depoimentos dos veteranos, disperse o seu material de base e conte confusamente (em tom de exaltação) sua história.
Texto Anterior: Curiosidades ajudaram escolha Próximo Texto: Amsterdã mostra vanguarda experimental de Joris Ivens Índice
|