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Amsterdã mostra vanguarda experimental de Joris Ivens
AMIR LABAKI
em Amsterdã
Joris Ivens (1898-1989) é muito
mais que o nome do principal
prêmio do Festival Internacional
de Amsterdã, a ser entregue na
noite de hoje. Uma década após
sua morte, o diretor de "Chuva"
(1929) e de "Spanish Earth" (1937)
mantém o status de mito -um
mito em constante reexame.
Apenas na última semana,
Ivens pautou dois eventos paralelos ao festival. O novo Museu Het
Valkhov de Nijmegen inaugurou
a audiciosa exposição "Passagens
- Joris Ivens e as Artes do Século",
que relaciona as diversas fases do
cineasta com a evolução do panorama artístico, e não apenas cinematográfico.
Ivens começou ligado à vanguarda experimental dos anos 20,
vinculou-se à produção engajada
ao socialismo em meados dos
anos 30 e procurou combinar
propaganda e poesia nas três últimas décadas de sua carreira. A
mostra acompanha o diálogo entre seus filmes e obras das mais
variadas, da gravura à fotografia,
da pintura ao fotograma, de artistas tantos distintos quanto László
Moholy-Nagy e Roberto Capa, Picasso e Cartier-Bresson, Man Ray
e Roberto Matta.
"É uma exposição de vanguarda", definiu a cineasta, colaboradora e viúva de Ivens, Marceline
Loridan. "Passagens" pode ser visitada até 5 de março de 2000. Não
haverá itinerância.
O crítico e pesquisador Kees
Bakker, diretor dos arquivos da
Fundação Européia Joris Ivens,
aproveitou a oportunidade para
lançar a coletânea "Joris Ivens
and the Documentary Context"
(Amsterdam University Press,
320 págs). O volume reúne quinze
ensaios de especialistas como Bill
Nichols e Bert Hogenkamp, além
de nove textos teóricos sobre o cinema não-ficcional de Ivens.
Nada parecido havia sido publicado fora da Holanda. Uma curiosidade é a citação na bibliografia da tese defendida pelo cineasta
brasileiro Sylvio Tendler ("Jango") em Paris sobre a relação cinema e história na obra de Ivens.
O legado de Joris Ivens foi tema
da entrevista concedida por Bakker à Folha, iniciada no mês passado durante o festival de Yamagata (Japão), onde foi apresentar
uma retrospectiva do cineasta, e
continuada na última segunda
em Amsterdã.
Bakker refutou o rótulo de
Ivens como o "maior cineasta nacional" da Holanda. "Não se pode
considerar Ivens como um cineasta holandês. Seu cinema é
ainda muito discutido devido ao
seu alinhamento com o comunismo. Mas ele foi foi também um cineasta formalista, sobretudo no
primeiro período", explicou.
Ao comentar a produção engajada do cineasta, Bakker classificou como o pior momento os
anos de 1949 a 1954. "Neste período, esteve trabalhando na então
Alemanha Oriental. Fez lá seus
piores filmes ("Os Primeiros
Anos", "A Amizade", "No Carrier", "Ring")", avalia Bakker.
"Ivens deixou a Holanda em 1936,
voltando só em 1964. Ele foi na
verdade um cineasta do mundo".
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