São Paulo, Quinta-feira, 02 de Dezembro de 1999


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Amsterdã mostra vanguarda experimental de Joris Ivens

AMIR LABAKI
em Amsterdã

Joris Ivens (1898-1989) é muito mais que o nome do principal prêmio do Festival Internacional de Amsterdã, a ser entregue na noite de hoje. Uma década após sua morte, o diretor de "Chuva" (1929) e de "Spanish Earth" (1937) mantém o status de mito -um mito em constante reexame.
Apenas na última semana, Ivens pautou dois eventos paralelos ao festival. O novo Museu Het Valkhov de Nijmegen inaugurou a audiciosa exposição "Passagens - Joris Ivens e as Artes do Século", que relaciona as diversas fases do cineasta com a evolução do panorama artístico, e não apenas cinematográfico.
Ivens começou ligado à vanguarda experimental dos anos 20, vinculou-se à produção engajada ao socialismo em meados dos anos 30 e procurou combinar propaganda e poesia nas três últimas décadas de sua carreira. A mostra acompanha o diálogo entre seus filmes e obras das mais variadas, da gravura à fotografia, da pintura ao fotograma, de artistas tantos distintos quanto László Moholy-Nagy e Roberto Capa, Picasso e Cartier-Bresson, Man Ray e Roberto Matta.
"É uma exposição de vanguarda", definiu a cineasta, colaboradora e viúva de Ivens, Marceline Loridan. "Passagens" pode ser visitada até 5 de março de 2000. Não haverá itinerância.
O crítico e pesquisador Kees Bakker, diretor dos arquivos da Fundação Européia Joris Ivens, aproveitou a oportunidade para lançar a coletânea "Joris Ivens and the Documentary Context" (Amsterdam University Press, 320 págs). O volume reúne quinze ensaios de especialistas como Bill Nichols e Bert Hogenkamp, além de nove textos teóricos sobre o cinema não-ficcional de Ivens.
Nada parecido havia sido publicado fora da Holanda. Uma curiosidade é a citação na bibliografia da tese defendida pelo cineasta brasileiro Sylvio Tendler ("Jango") em Paris sobre a relação cinema e história na obra de Ivens.
O legado de Joris Ivens foi tema da entrevista concedida por Bakker à Folha, iniciada no mês passado durante o festival de Yamagata (Japão), onde foi apresentar uma retrospectiva do cineasta, e continuada na última segunda em Amsterdã.
Bakker refutou o rótulo de Ivens como o "maior cineasta nacional" da Holanda. "Não se pode considerar Ivens como um cineasta holandês. Seu cinema é ainda muito discutido devido ao seu alinhamento com o comunismo. Mas ele foi foi também um cineasta formalista, sobretudo no primeiro período", explicou.
Ao comentar a produção engajada do cineasta, Bakker classificou como o pior momento os anos de 1949 a 1954. "Neste período, esteve trabalhando na então Alemanha Oriental. Fez lá seus piores filmes ("Os Primeiros Anos", "A Amizade", "No Carrier", "Ring")", avalia Bakker. "Ivens deixou a Holanda em 1936, voltando só em 1964. Ele foi na verdade um cineasta do mundo".


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