São Paulo, terça, 3 de fevereiro de 1998

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FILOSOFIA EM PRAÇA PÚBLICA
Sautet oscila entre tensão e relaxamento

MARCELO REZENDE
da Reportagem Local

O francês Marc Sautet acredita que, se o mundo é uma doença, a filosofia é o remédio possível. Seu "Um Café para Sócrates" -lançado agora no Brasil- é uma espécie de declaração de intenções e manual prático para o uso dessa idéia.
Mas quem é Sautet? Um detrator, vulgarizador inconsequente, diria parte da academia francesa. O homem que ressuscitou o pensamento na forma de debate, afirmam aqueles que o seguem todos os domingos, na praça da Bastilha, em Paris, no Café de Phares.
Certamente um pouco de cada coisa. Sautet admite que filosofar (esse verbo tão impreciso e valioso para o Ocidente) necessita silêncio, o recolhimento que precede o rigor da reflexão.
Mas prega também que as pessoas podem ser introduzidas aos termos filosóficos em uma conversa quase informal, atingidas de surpresa no meio de um trago, do ruído constante das ruas ou de um flerte.
Voltamos então às idéias centrais em Sautet e seu livro: se, pela manhã, uma angústia atinge o homem, e o sofrimento não é causado pelos problemas familiares, nem pelo amor que não se tem (ou que já possuímos, mas não podemos mais manter), logo o problema é a realidade ao redor.
O transtorno é causado pelas crises éticas nos governos e a violência nas ruas, fomentado pela desarmonia entre os seres vivos.
O leitor e espectador de Sautet quer saber: homem é esse desarranjo que faz parte de sua natureza ou foi algo que o transformou?
Ambiciona, enfim, conhecer um pouco de si mesmo e especular sobre sobre tudo aquilo que interfere em sua vida. Aqui entra a filosofia.
"Um Café para Sócrates" é, portanto, jogado em um tabuleiro que exige apenas duas regras: a tensão e o relaxamento e a oscilação entre elas.
Por vezes, Sautet reconhece que a popularização pode ser algo nefasto, pois carrega o risco da simplificação, da imprecisão conceitual.
Por outro lado, diz que o risco é necessário e que todos podem e devem "conhecer".
Não se saberá, ao menos não tão cedo, o resultado dessa "filosofia aplicada", nem de que maneira poderá funcionar em outros países que não a França.
Marc Sautet é um produto que nos últimos anos se tornou frequente na cultura de seu país. O intelectual capaz de criar moda, viver a moda e propagar a moda em nome de uma causa nobre, pois na França há o dever -por parte de seus grandes ou menores pensadores- de ocupar o espaço público, que se transforma rapidamente em uma tribuna.
O interesse pela filosofia está de volta, e existem os sinais por toda a parte. Sautet é mais um sintoma desse cenário do que uma causa. Muitos serão enredados por sua retórica e, talvez, descubram duas ou três coisas sobre o que antes pensavam ser a realidade.
Outros, no entanto, poderão guardar de Sautet apenas uma frase que o descreve na orelha da edição brasileira de seu livro: "Marc Sautet é uma pessoa dinâmica, espirituosa e comunicativa".

Livro: Um Café para Sócrates Autor: Marc Sautet Lançamento: José Olympio Editora Quanto: R$ 29 (311 págs.)



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