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FILOSOFIA EM PRAÇA PÚBLICA
Sautet oscila entre tensão e relaxamento
MARCELO REZENDE
da Reportagem Local
O francês Marc Sautet acredita
que, se o mundo é uma doença, a
filosofia é o remédio possível. Seu
"Um Café para Sócrates" -lançado agora no Brasil- é uma espécie de declaração de intenções e
manual prático para o uso dessa
idéia.
Mas quem é Sautet? Um detrator, vulgarizador inconsequente,
diria parte da academia francesa.
O homem que ressuscitou o pensamento na forma de debate, afirmam aqueles que o seguem todos
os domingos, na praça da Bastilha,
em Paris, no Café de Phares.
Certamente um pouco de cada
coisa. Sautet admite que filosofar
(esse verbo tão impreciso e valioso
para o Ocidente) necessita silêncio, o recolhimento que precede o
rigor da reflexão.
Mas prega também que as pessoas podem ser introduzidas aos
termos filosóficos em uma conversa quase informal, atingidas de
surpresa no meio de um trago, do
ruído constante das ruas ou de um
flerte.
Voltamos então às idéias centrais em Sautet e seu livro: se, pela
manhã, uma angústia atinge o homem, e o sofrimento não é causado pelos problemas familiares,
nem pelo amor que não se tem (ou
que já possuímos, mas não podemos mais manter), logo o problema é a realidade ao redor.
O transtorno é causado pelas crises éticas nos governos e a violência nas ruas, fomentado pela desarmonia entre os seres vivos.
O leitor e espectador de Sautet
quer saber: homem é esse desarranjo que faz parte de sua natureza
ou foi algo que o transformou?
Ambiciona, enfim, conhecer um
pouco de si mesmo e especular sobre sobre tudo aquilo que interfere
em sua vida. Aqui entra a filosofia.
"Um Café para Sócrates" é, portanto, jogado em um tabuleiro que
exige apenas duas regras: a tensão
e o relaxamento e a oscilação entre
elas.
Por vezes, Sautet reconhece que
a popularização pode ser algo nefasto, pois carrega o risco da simplificação, da imprecisão conceitual.
Por outro lado, diz que o risco é
necessário e que todos podem e
devem "conhecer".
Não se saberá, ao menos não tão
cedo, o resultado dessa "filosofia
aplicada", nem de que maneira
poderá funcionar em outros países que não a França.
Marc Sautet é um produto que
nos últimos anos se tornou frequente na cultura de seu país. O
intelectual capaz de criar moda,
viver a moda e propagar a moda
em nome de uma causa nobre,
pois na França há o dever -por
parte de seus grandes ou menores
pensadores- de ocupar o espaço
público, que se transforma rapidamente em uma tribuna.
O interesse pela filosofia está de
volta, e existem os sinais por toda
a parte. Sautet é mais um sintoma
desse cenário do que uma causa.
Muitos serão enredados por sua
retórica e, talvez, descubram duas
ou três coisas sobre o que antes
pensavam ser a realidade.
Outros, no entanto, poderão
guardar de Sautet apenas uma frase que o descreve na orelha da edição brasileira de seu livro: "Marc
Sautet é uma pessoa dinâmica, espirituosa e comunicativa".
Livro: Um Café para Sócrates
Autor: Marc Sautet
Lançamento: José Olympio Editora
Quanto: R$ 29 (311 págs.)
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