São Paulo, sábado, 03 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"OMERTÀ"

Livro perpetua os códigos de Mario Puzo

DENISE MOTA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

"Omertà" é um filme de 363 páginas. Como usar um termo que não seja "cinematográfico" para definir uma narrativa que inclui, em suas páginas iniciais, algo como a viagem de um bebê de 2 anos, "vestido com uma túnica e um chapéu pretos", "(...) na cadeira da carruagem fúnebre, puxada por um cavalo negro"?
Não há mal nisso, por ser o autor Mario Puzo (1920-99), criador de "O Poderoso Chefão", best seller que lançou em 69 e que roteirizou para o cinema três vezes, o que lhe conferiu status de cronista a la Hollywood de uma das facetas do submundo americano.
Escritor que viria a admitir que fez "O Poderoso Chefão" por dinheiro (assim como suas adaptações para as telas), que roteirizaria ainda -pelos mesmos motivos contábeis- "Superman - O Filme" (78) e sua sequência e que citaria sempre como seu melhor livro o obscuro "The Fortunate Pilgrim", Puzo concentrou, em "Omertà", todos os elementos que fizeram sua fama e a dos Corleone, a família-tema da trilogia dirigida por Francis Ford Coppola.
Estão neste que é o último livro do autor os mafiosos isentos de piedade, mas inesperadamente ternos e sempre zelosos com a família, os personagens ligados ao mesmo tempo ao crime e à religião (um dos assassinos da história foi coroinha na infância), animais decapitados sobre camas como um sinal de ameaça de morte e os tiros saídos de carros em movimento, nas escadarias de uma igreja, após a crisma de um adolescente. Mais hollywoodiano impossível.
"Omertà" -código de honra siciliano que determina silêncio absoluto sobre crimes cometidos por motivos estritamente pessoais- tem início após a morte de um poderoso chefão da Máfia. Um filho de criação do morto, Astorre Viola -um cantor de baladas italianas educado na Inglaterra e aparentemente inofensivo-, toma as rédeas dos negócios da família e passa a investigar a causa e a autoria do assassinato.
Não vai demorar a se envolver com funcionários do FBI não exatamente exemplares, chefões ardilosos, diplomatas corruptos, assassinos de carreira e mulheres sedutoras e fatais.
Astorre segue a mesma linhagem de durões esclarecidos já apresentada à exaustão por tipos como o Michael Corleone (Al Pacino) da trilogia "O Poderoso Chefão", por exemplo. Mas Puzo mantém a credibilidade de seus personagens, apesar da simplificação exagerada de suas motivações, caso do agente do FBI que cria cachorros por serem eles "incapazes de conspirar".
Descontados deslizes dessa natureza, "Omertà" não decepciona porque não promete arroubos estilísticos. É um filme de ação e, como todos os bons do gênero, entretém facilmente.


Omertà
   
Autor: Mario Puzo
Editora: Record
Quanto: R$ 27, em média (363 págs.)




Texto Anterior: Livros/lançamentos - "Nada mais foi dito ou perguntado": Obra cria novo gênero literário
Próximo Texto: Resenha da Semana - Bernardo Carvalho: A negação da negação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.