|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Na Band, Marlene se revela por inteiro
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Tia Marlene" -para
usar o tratamento sugerido por Vivi, ela também nova estrela das manhãs paulistanas-
começou o ano para valer na
Band. Depois de dois meses de
preparação, a poderosa ex-empresária de Xuxa e diretora de núcleo da Globo inicia a temporada
pós-carnavalesca com fôlego.
Com ela, fica em evidência a
função do diretor-produtor forte,
profissional responsável por imprimir um conceito de programação, expresso ao longo da grade
de uma emissora.
O dia na Band unida começa leve com receitas, babado e saúde.
A barra vai pesando ao longo da
tarde para culminar em obscenidade grotesca no fim da noite.
Dissociada da "rainha dos baixinhos", que ajudou a criar, e sem
o consolidado aparato global,
Marlene Mattos vai se revelando
de corpo inteiro. Há um esforço
de agilidade, visível na presença
constante do logo "ao vivo" no
canto direito da tela. Apresentadores se colocam ao lado dos cidadãos, na denúncia de violações
cotidianas de direitos.
Tudo em um tom de informalidade. Datena caminha pelo estreito corredor que conduz ao estúdio, se aproxima da câmera e, em
primeiríssimo plano, com o rosto
ligeiramente inclinado, assume
um ar confessional para dividir
com os telespectadores o peso de
conduzir um programa como o
"Brasil Urgente".
Astrid, Datena, Vivi e Gilberto
Barros têm em comum Marlene.
Sob a nova direção "artística", a
Band procura construir uma
cumplicidade com o telespectador, baseada em um misto de intimidade e agressividade.
Os apresentadores encarnam
"gente como a gente". Eles aparentam nervosismo diante das câmeras, são família, torcem para
seus ídolos, fofocam, improvisam. Ficam indignados com a incompetência de uma autoridade
ou com o erro de uma empresa.
São ligeiramente conservadores.
Marlene conduz um mix curioso da agilidade do jornalismo
com a informalidade e a redundância típicas da fofoca da vizinha. Não há grandes vôos de conteúdo. Nem pretensão de originalidade. Há um profissionalismo
que opera no registro duvidoso
do que se imagina como sendo o
padrão mediano.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
Texto Anterior: Teatro: Ilusão do Brasil aporta em Gênova Próximo Texto: Marcelo Coelho: A feiúra das mais belas mulheres do mundo Índice
|