São Paulo, terça, 3 de março de 1998

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Diogo Vilela criou papel em manicômio

da Reportagem Local

O ator Diogo Vilela começou a trabalhar em "Diário de um Louco", o conto do russo Nikolai Gogol, sem a menor pretensão. Era um exercício, um experimento, a ser apresentado num teatro mínimo, em que a platéia é antes cúmplice do que espectadora.
O projeto maior do ator-produtor era (e ainda é) uma comédia de Feydeau, para oito atores, "Tailleur pour Dames", aqui "Costureiro de Madame".
Mas os patrocínios para a montagem demoravam a sair, a produção era cara e ele não queria parar com o teatro.
Queria estar no palco. "Eu preciso fazer uma peça todo ano", diz. Foi, inesperadamente, o camareiro da atriz Marília Pêra quem mandou um recado, por um terceiro, para que ele montasse o conto de Gogol.
O texto já foi apresentado no teatro há mais de três décadas, pelo ator Rubens Corrêa.
"Eu chorei quando li o texto", diz Vilela. "Compreendi o texto completamente. A vontade de ser alguém, a ingenuidade. A relação do personagem com o tempo que a gente vive. A compaixão. Eu compreendo muito ele."
"Ele" é Alexenty-Ivanovitch Propritchitchine, um burocrata de São Petersburgo que vive um cotidiano de solidão e desesperança. Ele fantasia uma ascendência nobre para si mesmo, um romance com a filha do chefe de sua seção, até se perder de vez da realidade.
Termina no manicômio, como o próprio autor, Gogol, aliás um romancista e dramaturgo que fundamentou e influenciou toda a grande literatura russa, de Tolstoi a Tchecov. Acredita ser o herdeiro do trono espanhol.
Vilela também foi parar no manicômio para criar seu personagem. "Eu tive de ir escondido", diz, lembrando como perguntavam insistentemente, durante os ensaios, sobre isso. Entendeu-se bem com os internos.
"O artista convive bem com louco", diz o ator. "Louco é muito acessível para um artista. A gente chega perto dos limites com facilidade. A gente fica sempre no limiar da loucura."
E o personagem, em meio aos tantos prêmios e elogios, chegou num momento de amadurecimento para Diogo Vilela.
O ator fez 40 anos, atua em teatro e televisão desde os 16, conviveu e aprendeu com lendas do teatro como Ziembinski e Henriette Morineau.
Fala com reverência e admiração dos velhos atores que conheceu. Lembra Elza Gomes, Oswaldo Louzada, "um ator deslumbrante". Louzada, em particular. "Ele vai sempre ver as minhas peças. Vai sempre sozinho." (NS)

Peça: Diário de um Louco Autor: Nikolai Gogol Direção: Marcus Alvisi Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/258-3616) Quanto: R$ 25 (qui., sex. e dom.) e R$ 30 (sáb.)


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