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Diogo Vilela criou papel em manicômio
da Reportagem Local
O ator Diogo Vilela começou a
trabalhar em "Diário de um Louco", o conto do russo Nikolai Gogol, sem a menor pretensão. Era
um exercício, um experimento, a
ser apresentado num teatro mínimo, em que a platéia é antes cúmplice do que espectadora.
O projeto maior do ator-produtor era (e ainda é) uma comédia de
Feydeau, para oito atores, "Tailleur pour Dames", aqui "Costureiro de Madame".
Mas os patrocínios para a montagem demoravam a sair, a produção era cara e ele não queria parar
com o teatro.
Queria estar no palco. "Eu preciso fazer uma peça todo ano", diz.
Foi, inesperadamente, o camareiro da atriz Marília Pêra quem
mandou um recado, por um terceiro, para que ele montasse o
conto de Gogol.
O texto já foi apresentado no teatro há mais de três décadas, pelo
ator Rubens Corrêa.
"Eu chorei quando li o texto",
diz Vilela. "Compreendi o texto
completamente. A vontade de ser
alguém, a ingenuidade. A relação
do personagem com o tempo que
a gente vive. A compaixão. Eu
compreendo muito ele."
"Ele" é Alexenty-Ivanovitch
Propritchitchine, um burocrata de
São Petersburgo que vive um cotidiano de solidão e desesperança.
Ele fantasia uma ascendência nobre para si mesmo, um romance
com a filha do chefe de sua seção,
até se perder de vez da realidade.
Termina no manicômio, como o
próprio autor, Gogol, aliás um romancista e dramaturgo que fundamentou e influenciou toda a
grande literatura russa, de Tolstoi
a Tchecov. Acredita ser o herdeiro
do trono espanhol.
Vilela também foi parar no manicômio para criar seu personagem. "Eu tive de ir escondido",
diz, lembrando como perguntavam insistentemente, durante os
ensaios, sobre isso. Entendeu-se
bem com os internos.
"O artista convive bem com
louco", diz o ator. "Louco é muito
acessível para um artista. A gente
chega perto dos limites com facilidade. A gente fica sempre no limiar da loucura."
E o personagem, em meio aos
tantos prêmios e elogios, chegou
num momento de amadurecimento para Diogo Vilela.
O ator fez 40 anos, atua em teatro e televisão desde os 16, conviveu e aprendeu com lendas do teatro como Ziembinski e Henriette
Morineau.
Fala com reverência e admiração
dos velhos atores que conheceu.
Lembra Elza Gomes, Oswaldo
Louzada, "um ator deslumbrante". Louzada, em particular. "Ele
vai sempre ver as minhas peças.
Vai sempre sozinho."
(NS)
Peça: Diário de um Louco
Autor: Nikolai Gogol
Direção: Marcus Alvisi
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 011/258-3616)
Quanto: R$ 25 (qui., sex. e dom.) e R$ 30
(sáb.)
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