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"ARCO DAS ROSAS - O MARCHAND COMO CURADOR"
Texto mapeia circuito e reconstrói o mercado de arte
Livro mostra o galerista sem ambiguidade
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Celso Fioravante escreve
em dois tempos. Num é crítico, reconstituindo a história do
traiçoeiro mercado de arte no Rio
e em São Paulo. Mas noutro apresenta a constelação atual das galerias paulistanas como fruto do
trabalho de visionários com ideais
elevados.
O mercado de arte repousa sobre valores simbólicos. Depende
da consagração de artista e obra
para garantir a liquidez das mercadorias oferecidas. Para tal, articula-se com as engrenagens do
poder cultural.
Fioravante acerta ao apontar as
ligações obscuras entre instituições culturais e galerias. A Bienal
de São Paulo é objeto de suspeita
que permanece em aberto, pois,
como afirma um dos entrevistados no livro, o marchand e artista
plástico Antonio Maluf, "desde a
primeira Bienal, os interesses comerciais dos marchands já se manifestavam".
Contudo os mesmos seres maquiavélicos reaparecem em pele
de cordeiro. São eles que possibilitam, junto a museus como o
MAC, o MAM carioca e o paulista, a emergência do experimentalismo conducente à arte contemporânea, na medida em que
abrem os espaços comerciais para
obras cada vez mais inovadoras.
Instituições alternativas também ganham voz. É o caso da Rex
Gallery e da Escola Brasil, cujas
origens remontam à crítica ao sistema de galerias dos anos 60.
O texto principal encerra-se no
ano de 1990. Depois, o autor faz
uma apresentação laudatória de
15 galerias selecionadas para a
mostra "Arco das Rosas". Sem
qualquer mediação, a figura ambígua do marchand desaparece e,
no lugar, é colocado um galerista
sempre bem-intencionado. As
declarações dos negociantes são
reproduzidas sem crítica.
A dialética do tema não é resolvida pelo autor. Embora Fioravante consiga reunir amplo material historiográfico, não elabora
uma síntese dos aspectos opostos
da figura do galerista, adotando
um método descritivo.
A imparcialidade do texto torna-o ingênuo. O livro confere legitimidade aos atuais mercadores
de arte do país.
Arco das Rosas - O Marchand
como Curador
Autor: Celso Fioravante
Edição: Secretaria de Estado da
Cultura/Casa das Rosas
Quanto: preço não definido (120 págs.)
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