São Paulo, quinta-feira, 03 de maio de 2001

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"ARCO DAS ROSAS - O MARCHAND COMO CURADOR"

Texto mapeia circuito e reconstrói o mercado de arte

Livro mostra o galerista sem ambiguidade

FELIPE CHAIMOVICH CRÍTICO DA FOLHA

Celso Fioravante escreve em dois tempos. Num é crítico, reconstituindo a história do traiçoeiro mercado de arte no Rio e em São Paulo. Mas noutro apresenta a constelação atual das galerias paulistanas como fruto do trabalho de visionários com ideais elevados.
O mercado de arte repousa sobre valores simbólicos. Depende da consagração de artista e obra para garantir a liquidez das mercadorias oferecidas. Para tal, articula-se com as engrenagens do poder cultural.
Fioravante acerta ao apontar as ligações obscuras entre instituições culturais e galerias. A Bienal de São Paulo é objeto de suspeita que permanece em aberto, pois, como afirma um dos entrevistados no livro, o marchand e artista plástico Antonio Maluf, "desde a primeira Bienal, os interesses comerciais dos marchands já se manifestavam".
Contudo os mesmos seres maquiavélicos reaparecem em pele de cordeiro. São eles que possibilitam, junto a museus como o MAC, o MAM carioca e o paulista, a emergência do experimentalismo conducente à arte contemporânea, na medida em que abrem os espaços comerciais para obras cada vez mais inovadoras.
Instituições alternativas também ganham voz. É o caso da Rex Gallery e da Escola Brasil, cujas origens remontam à crítica ao sistema de galerias dos anos 60.
O texto principal encerra-se no ano de 1990. Depois, o autor faz uma apresentação laudatória de 15 galerias selecionadas para a mostra "Arco das Rosas". Sem qualquer mediação, a figura ambígua do marchand desaparece e, no lugar, é colocado um galerista sempre bem-intencionado. As declarações dos negociantes são reproduzidas sem crítica.
A dialética do tema não é resolvida pelo autor. Embora Fioravante consiga reunir amplo material historiográfico, não elabora uma síntese dos aspectos opostos da figura do galerista, adotando um método descritivo.
A imparcialidade do texto torna-o ingênuo. O livro confere legitimidade aos atuais mercadores de arte do país.


Arco das Rosas - O Marchand como Curador
  
Autor: Celso Fioravante
Edição: Secretaria de Estado da Cultura/Casa das Rosas
Quanto: preço não definido (120 págs.)




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