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Crítica
"Os Pássaros" expõe imperfeição humana
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
De todos os filmes de Alfred
Hitchcock, "Os Pássaros"
(TCM, 19h55, não indicado para menores de 12 anos) é possivelmente o mais original, já
que a ideia de culpa -tão presente em seus filmes- é um
tanto distante neste trabalho.
Talvez seja o caso de ver aqui,
antes de mais nada, a proeza
técnica como seu móvel principal, a saber: o desafio de promover a transformação de
pacatas aves em entes
aterrorizantes.
Tudo que vemos nos pássaros, desde as imagens franciscanas, é solidariedade, bondade, trato fácil com o humano. É
tudo que as aves de Hitchcock
passam a negar aos homens, ao
contrário: tornam-se feras.
Retrospectivamente, é possível ver aí uma revolta da natureza contra o homem. Mas teria esse aspecto ecológico pertinência em 1963? Não importa
muito, pois as grandes obras
vão encontrando seu sentido
conforme o tempo.
De todo modo, o mistério dos
pássaros e sua revolta permanecem, duplicados pelas cenas
de extremo sadismo a que é
submetida a atriz principal,
Tippi Hedren, como a nos lembrar que, na cabeça de Hitchcock, a beleza (feminina) não
pode existir impunemente,
pois afinal é o que nos inspira
(a nós, homens) pensamentos
impuros.
A imperfeição do homem e
sua dificuldade de conviver
com a beleza da perfeição (e da
criação) podem muito bem ser
um tema privilegiado de "Os
Pássaros", essa obra-prima.
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