São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

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Crítica

"Os Pássaros" expõe imperfeição humana

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

De todos os filmes de Alfred Hitchcock, "Os Pássaros" (TCM, 19h55, não indicado para menores de 12 anos) é possivelmente o mais original, já que a ideia de culpa -tão presente em seus filmes- é um tanto distante neste trabalho.
Talvez seja o caso de ver aqui, antes de mais nada, a proeza técnica como seu móvel principal, a saber: o desafio de promover a transformação de pacatas aves em entes aterrorizantes.
Tudo que vemos nos pássaros, desde as imagens franciscanas, é solidariedade, bondade, trato fácil com o humano. É tudo que as aves de Hitchcock passam a negar aos homens, ao contrário: tornam-se feras.
Retrospectivamente, é possível ver aí uma revolta da natureza contra o homem. Mas teria esse aspecto ecológico pertinência em 1963? Não importa muito, pois as grandes obras vão encontrando seu sentido conforme o tempo.
De todo modo, o mistério dos pássaros e sua revolta permanecem, duplicados pelas cenas de extremo sadismo a que é submetida a atriz principal, Tippi Hedren, como a nos lembrar que, na cabeça de Hitchcock, a beleza (feminina) não pode existir impunemente, pois afinal é o que nos inspira (a nós, homens) pensamentos impuros.
A imperfeição do homem e sua dificuldade de conviver com a beleza da perfeição (e da criação) podem muito bem ser um tema privilegiado de "Os Pássaros", essa obra-prima.


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