São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009 |
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FERREIRA GULLAR Sopa de miúdos
A FARRA das passagens aéreas provocou tal escândalo que o presidente da Câmara foi obrigado a limitar seu uso ao próprio parlamentar e seus assessores. A reação dos deputados foi imediata. Um deles teve o descaramento de afirmar que não estava no Congresso por seu bel prazer mas para servir à nação, a um custo que, acrescento eu, só de grana viva, vai a mais de R$ 60 mil, sem falar do resto. Outro cara-de-pau afirmou que queriam separá-lo da esposa, acabar com seu casamento, já que a proibiam de ir encontrá-lo em Brasília. A hipótese de ele pagar a passagem dela está excluída, uma vez que, na sua opinião, "a família faz parte do mandato". Nunca vi marido tão apegado à esposa, já que não pode ficar sem ela nos três únicos dias da semana que passa em Brasília. Esse é o tipo de gente que está nos representando. A reação dos eleitores os fez voltar atrás. "Me entenderam mal", disse um deles, com o mesmo despudor. Aludiram todos ao Muro de Berlim, numa forçação de barra que deveria constrangê-los. Parece até que foram os comunistas que inventaram o muro. Na casa onde morei, em São Luís, com meus pais e irmãos, nos anos 50, havia um muro, sabiam? E também havia em todas as casas da vizinhança. É uma tática manjada demonizar as coisas para desacreditá-las. Lembro-me de um prefeito que, faz uns 30 anos, decidiu cercar as praças do Rio com grades. Imediatamente os defensores da liberdade sem limites vieram a público criticá-lo. Como não puderam lançar contra ele as "grades de Berlim", alegaram que estava atentando contra o direito de ir e vir dos cidadãos. A verdade é que praças como a Sezerdelo Correa, aqui em Copacabana, haviam se tornado valhacoutos de mendigos, que ali faziam suas necessidades, e de pivetes, que cheiravam cola e assaltavam as pessoas. Pois bem, o prefeito não deu ouvido às críticas e cercou as praças, que assim continuam até hoje, para a felicidade dos cariocas. A praça Serzedelo Correa, como a praça do Lido hoje são lugares aprazíveis, onde as crianças brincam e os aposentados jogam dominó e batem papo. Texto Anterior: Crítica: "Os Pássaros" expõe imperfeição humana Próximo Texto: Maria Rita encerra Virada Cultural "rodando a baiana" Índice |
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