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ROMANCE
Anti-herói pratica a ira vingadora dos anônimos
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
Quem já não sentiu vontade
de explodir meio mundo,
vendo as notícias de corrupção no
governo? Quem já não pensou em
dar um corretivo em pilantras que
se esgueiram pelos escaninhos da
burocracia empresarial? Quem já
não teve vontade de intervir com
violência diante de demonstrações de abuso?
Bill Kaiser leva à prática a ira
vingadora contida dos anônimos,
faz justiça em nome dos homens
de bem.
Espécie de terrorista politicamente correto, ele é o herói (bandido?) de "A Arte de Quebrar Vidro", romance de (muita) ação de
Matthew Hall.
Kaiser está em campanha contra um magnata da especulação
imobiliária. Com o apoio de um
político corrupto, o empresário
quer destruir um prédio histórico
de Nova York -hoje ocupado
por sem-teto- para construir
uma presídio que será explorado
pela iniciativa privada.
O justiceiro inicia seu ataque pelo político, mas é pego com a boca
na botija (ou quase). Fingindo-se
de louco, consegue enganar os
policiais que o prendem e é levado
para a emergência psiquiátrica do
Bellevue, hospital municipal.
Lá se fecha o círculo dos heróis
da história. Kaiser encontra a enfermeira Sharon Blautner, jovem
viúva que ouve a história daquele
aparente esquizofrênico com
atenção profissional e simpatia.
Logo, porém, o disfarce do paciente começa a ser destruído. Ele
é levado para a ala de segurança.
Dali, a próxima parada deverá ser
a cadeia.
Blautner não está de todo certa
de que ele mereça esse destino.
Perdida em suas dúvidas e simpatias, a enfermeira acaba sendo
usada como instrumento para facilitar a fuga do justiceiro.
Vítima, é considerada cúmplice.
Simpática ao anti-herói (e também objeto do carinho dele),
transforma-se em sua maior perseguidora.
Homem superbandido, mulher
caçadora implacável: a história
remete para "O Silêncio dos Inocentes".
Mas aqui a relação é mais complexa que a da policial Clarice
Starling com o assassino canibal
Hannibal Lector.
Sharon Blautner acha que Bill
Kaiser precisa ser detido, mas não
consegue deixar de concordar
que as vítimas do terrorista realmente deveriam ser punidas.
Além disso, Kaiser não é somente mão vingadora, mas também anjo protetor. O expert em
eletrônica usa seus conhecimentos para obter recursos que são
enviados a supernecessitadas instituições de caridade.
O embate entre os dois é contado em prosa rápida, empolgada.
Mesmo as descrições dos métodos de Kaiser para criar explosivos a partir de combinações de
elementos aparentemente inocentes não chegam a cortar o ritmo da ação, às vezes mirabolante
e implausível, mas sempre coerente com a história.
Completando o presente para o
leitor, o cenário de tudo isso é Nova York, que emerge como se fosse personagem, tal a presença da
vida da cidade na trama.
Vale a pena.
A Arte de Quebrar Vidro
Autor: Matthew Hall
Editora: Bertrand Brasil
Quanto: R$ 36 (386 págs.)
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