São Paulo, sábado, 03 de junho de 2000


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ROMANCE
Anti-herói pratica a ira vingadora dos anônimos

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

Quem já não sentiu vontade de explodir meio mundo, vendo as notícias de corrupção no governo? Quem já não pensou em dar um corretivo em pilantras que se esgueiram pelos escaninhos da burocracia empresarial? Quem já não teve vontade de intervir com violência diante de demonstrações de abuso?
Bill Kaiser leva à prática a ira vingadora contida dos anônimos, faz justiça em nome dos homens de bem.
Espécie de terrorista politicamente correto, ele é o herói (bandido?) de "A Arte de Quebrar Vidro", romance de (muita) ação de Matthew Hall.
Kaiser está em campanha contra um magnata da especulação imobiliária. Com o apoio de um político corrupto, o empresário quer destruir um prédio histórico de Nova York -hoje ocupado por sem-teto- para construir uma presídio que será explorado pela iniciativa privada.
O justiceiro inicia seu ataque pelo político, mas é pego com a boca na botija (ou quase). Fingindo-se de louco, consegue enganar os policiais que o prendem e é levado para a emergência psiquiátrica do Bellevue, hospital municipal.
Lá se fecha o círculo dos heróis da história. Kaiser encontra a enfermeira Sharon Blautner, jovem viúva que ouve a história daquele aparente esquizofrênico com atenção profissional e simpatia.
Logo, porém, o disfarce do paciente começa a ser destruído. Ele é levado para a ala de segurança. Dali, a próxima parada deverá ser a cadeia.
Blautner não está de todo certa de que ele mereça esse destino. Perdida em suas dúvidas e simpatias, a enfermeira acaba sendo usada como instrumento para facilitar a fuga do justiceiro.
Vítima, é considerada cúmplice. Simpática ao anti-herói (e também objeto do carinho dele), transforma-se em sua maior perseguidora.
Homem superbandido, mulher caçadora implacável: a história remete para "O Silêncio dos Inocentes".
Mas aqui a relação é mais complexa que a da policial Clarice Starling com o assassino canibal Hannibal Lector.
Sharon Blautner acha que Bill Kaiser precisa ser detido, mas não consegue deixar de concordar que as vítimas do terrorista realmente deveriam ser punidas.
Além disso, Kaiser não é somente mão vingadora, mas também anjo protetor. O expert em eletrônica usa seus conhecimentos para obter recursos que são enviados a supernecessitadas instituições de caridade.
O embate entre os dois é contado em prosa rápida, empolgada. Mesmo as descrições dos métodos de Kaiser para criar explosivos a partir de combinações de elementos aparentemente inocentes não chegam a cortar o ritmo da ação, às vezes mirabolante e implausível, mas sempre coerente com a história.
Completando o presente para o leitor, o cenário de tudo isso é Nova York, que emerge como se fosse personagem, tal a presença da vida da cidade na trama.
Vale a pena.


A Arte de Quebrar Vidro     Autor: Matthew Hall Editora: Bertrand Brasil Quanto: R$ 36 (386 págs.)




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